Na lendária Serra da Barriga, local que abrigou o renomado Quilombo dos Palmares, um território pleno de simbologias e considerado sagrado, devido ao passado de lutas dos negros africanos trazidos ao Brasil na época colonial na condição de escravos, onde a maior figura negra brasileira, Zumbi dos Palmares, tombou lutando pela liberdade - foram depositados, no dia 13 de novembro de 2011, os restos mortais de Abdias do Nascimento, outra figura ímpar do movimento a favor da promoção da igualdade racial. Em uma cerimônia inter-religiosa, em que participaram reconhecidos representantes das religiões de matriz africana do Brasil, África e do Haiti, um representante da Fé Bahá’í foi igualmente convidado a prestar homenagens.
O convite à participação bahá’í se deu através de Elisa Larkin Nascimento, viúva de Abdias Nascimento, pois, conforme suas palavras, a Fé Bahá’í “trata-se de uma religião universalista, que congrega todas as religiões, representando o espírito que movia Abdias”.
Abdias Nascimento, nascido em 14 de março de 1914 e falecido em 24 de maio de 2011, foi um dos maiores ícones do movimento negro brasileiro, tendo sido, poeta, artista plástico, dramaturgo, professor, deputado federal, senador e fundador do Teatro Experimental do Negro. O rio de sua trajetória como homem público se cruza em diferentes oportunidades com os bahá'ís do Brasil, tal como no processo de construção da Conferência Mundial contra o Racismo ocorrida em Durban, África do Sul, em 2001. Em 2002, Abdias recebeu da Comunidade Bahá'í do Brasil o Prêmio Cidadania Mundial, uma condecoração especial em reconhecimento aos esforços de homens, mulheres e instituições da sociedade civil que lutam pela paz e por um mundo livre de preconceitos e divisões.
Na cerimônia desse dia 13 de novembro, na Serra da Barriga, localizada no estado de Alagoas -- na semana em que em todo o Brasil celebra o dia nacional de luta contra o racismo-- estiveram presentes três membros da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá'ís do Brasil, órgão administrativo máximo da Fé Bahá'i no pais. A cerimônia de deposição dos restos mortais de Abdias Nascimento se deu conjuntamente com o plantio de um pé da baobá, árvore sagrada no Candomblé, pelas mãos dos três filhos de Abdias.
Uma representante do Candomblé do estado de Alagoas, representantes da Nigéria do culto aos Orixás e um representante bahá'í ofereceram orações e compartilharam pensamentos sobre a realidade da vida após a morte. A consonância entre todos os pensamentos compartilhados e o clima de unidade elevou os espíritos de todos os presentes. O representante bahá'í destacou as palavras de Bahá'u'lláh de que a alma humana se assemelha a um pássaro que alça vôo as alturas de glória quando se liberta de sua gaiola, não lhe afetando a morte física, e sim potencializando suas qualidades, servindo de levedo para inspirar e liberar as energias criativas para a promoção e desenvolvimento das artes, ciências e ofícios. Esta visão compartilhada foi amorosamente acolhida pelos demais representantes religiosos presentes.
Entre as autoridades presentes estava a Ministra do governo federal responsável pela promoção da igualdade racial, o presidente da Fundação Cultural Palmares - órgão do governo federal que cuida do reconhecimento e proteção dos locais ligados à história dos negros africanos trazidos ao Brasil na condição de escravos; autoridades do estado de Alagoas e do município de União dos Palmares, onde se encontra a Serra da Barriga. Dezenas de representantes de organizações da sociedade civil ligadas ao movimento negro brasileiro e outras lideranças negras estiveram presentes – tanto do governo como da sociedade civil – reconhecendo a presença dos bahá'ís e demonstrando respeito e apreço pelo fato da Fé Bahá'í estar presente num evento que sinalizou o último adeus à figura de Abdias Nascimento.
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