Comunidade Bahá'í do Brasil: Um Novo Modelo de Governança

É passado o tempo em que as lideranças podiam ver o povo como uma tábua rasa sobre a qual seus desejos e interesses individuais podiam ser inscritos livremente.

Para que essa transformação possa ocorrer de maneira eficaz, será necessário implementar um modelo de governança que favoreça não apenas uma oitiva simbólica daquilo que a população expressa como prioritário; para além disso, será essencial que sejam viabilizadas novas formas de participação efetiva nos processos decisórios.

Consulta: as experiências e ideias de cada indivíduo
devem ser consideradas no processo decisório

A tomada de decisão não mais pode ser realizada em gabinetes alheios à realidade vivida pela maioria da população, uma vez que já se sabe ser fundamental envolver os beneficiários das políticas e estratégias tanto nas etapas de desenho e planejamento quanto nas de implementação, avaliação e revisão, estimulando uma atitude de protagonismo desses indivíduos com relação à definição de seu próprio futuro.Para tanto, é preciso reconhecer o potencial que cada ser humano traz em si e as possibilidades que detém para contribuir com a transformação da sociedade, desenvolvendo suas capacidades latentes para trabalhar coletivamente na solução das questões que se lhe apresentam.

As pessoas que se encontram em posição de autoridade deverão desenvolver a consciência de que são responsáveis pelo bem-estar de toda a sociedade.

Assim, devem estar cientes de que necessitam conquistar a confiança, o respeito e o apoio genuíno de seus governados, favorecendo consultas abertas e amplas a fim de alcançar avaliações consubstanciadas acerca das necessidades e aspirações das comunidades a quem servem. Somente assim poderão exercer uma autoridade efetiva, baseada na certeza de que suas decisões de fato priorizam a construção e manutenção da unidade entre os membros da sociedade e de suas instituições administrativas.

Tão importante quanto a consciência por parte das lideranças já estabelecidas acerca de seu papel e responsabilidades é a noção, por parte do povo em geral, de sua função primordial de selecionar os representantes legítimos a quem confiarão determinadas tarefas.

Para isso, será preciso revisar o conceito de cultura democrática, hoje entendido como um mero teatro político de nomeações, candidaturas, campanhas eleitorais e solicitação de votos. A tão desejada reforma política deve contemplar mecanismos que aproximem os candidatos dos seus eleitores a fim de que passem pelo escrutínio dos seus valores e do histórico de sua atuação em prol da coletividade – elementos que devem ser avaliados conjuntamente às suas propostas de trabalho. Na caminhada que levará cidadãos e cidadãs a reconhecerem nos programas propostos uma real determinação em servir aos interesses do desenvolvimento de cada comunidade ou da nação, é a proximidade com esses valores que tornará possível aos eleitores avaliar suas opções e realizar suas obrigações eleitorais de maneira consciente e informada. Ademais, indivíduos eleitos com base nesse novo modelo necessitarão manter sua capacidade de escuta a fim de dar continuidade a essa proximidade com aqueles que os elegeram.