Por: Pejman Samoori
Diferente de todo o espírito de esperança que permeou os cenários políticos anteriores do início da década de 90, como “Diretas Já!”, hoje, a palavra política gera imagens de desconfiança, corrupção e relações de poder. Obviamente que é equivocada a postura de generalização e não se pode negar a competência e a dedicação de alguns dos nossos representantes que têm respondido inequivocamente às demandas e necessidades do povo. Porém, o trabalho de tais políticos é ofuscado pelos constantes escândalos nas instâncias legislativas, executivas e judiciárias do país.
Como esperar lealdade e confiança do nosso povo quando os líderes que nos representam demonstram maior preocupação com os interesses pessoais de acumulação de riquezas do que com o bem-estar e o progresso da coletividade?
Isso não implica negar o grande passo que demos na direção da democracia, mas de reconhecer que a governança democrática exige diversas qualidades e capacidades de seus membros, tanto dos eleitores como dos candidatos.
Se a política é uma arte - a arte de governar - então ela requer amor, disciplina, sensibilidade e paciência.
Assim como não basta ter um instrumento para ser um verdadeiro músico, não basta apenas ser eleito para ser um verdadeiro político.
A democracia exige mais que simples estrutura e cargos. A estrutura é o primeiro passo, que permitiu o estabelecimento de um sistema político com dirigentes eleitos pelo povo. Mas a democracia deve avançar a outro nível agora, principalmente no âmbito das capacidades, atitudes e qualidades dos governantes.
Se os nossos representantes não estiverem imbuídos de novas capacidades e qualidades, a atual proposta de democracia é insustentável. Se somos o que pensamos, então necessitamos de outros pensamentos para mudar a realidade.
Apesar da questão do racismo ser algo abominável na visão coletiva da maioria das pessoas hoje, a vergonha do Apartheid existia publicamente há algumas décadas atrás. Apesar dos preconceitos de gênero serem inaceitáveis no mundo atual, alguns países da Europa não aceitavam o voto feminino até a década de 70. Tais mudanças são reais e ocorreram em um curto prazo de tempo.
Talvez pareça utópico, mas da mesma forma que o homem foi capaz de evoluções tão significativas na forma de pensar nas últimas décadas, acredito que ele será capaz de eleger governantes livres das máculas da corrupção e distinguidos pelas suas qualidades de magnanimidade, integridade e pureza de intenção. Talvez nisso é que esteja a arte na política.
[*]Pejman Samoori, docente universitário, doutorando em Educação (UnB), consultor do Fórum Nacional de Educação em Direitos Humanos, membro da Comunidade Bahá’í. Email: psamoori@yahoo.com
Publicado em 27 de outubro de 2009 no site ATITUDE TOCANTINS, de Gurupi/TO.
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