A Comunidade Bahá’í defende que a transformação social seja abordada como um empreendimento coletivo no qual as pessoas estejam aptas a participar. Nesse sentido, uma das contribuições da Comunidade Internacional Bahá’í (BIC) para a 51ª sessão da Comissão para o Desenvolvimento Social das Nações Unidas, realizada em fevereiro deste ano, foi a declaração “Capacitação como mecanismo de transformação coletiva”. Nesse sentido, a capacitação é entendida como o despertar das potencialidades latentes em cada indivíduo.
A partir desta compreensão, a Fundação para Aplicação e Ensino de Ciências (FUNDAEC) - organização de inspiração bahá’í, desenvolveu na Colômbia uma metodologia para os habitantes de áreas rurais que abarca três categorias: o desenvolvimento de recursos humanos, a aplicação das ciências e o fortalecimento das estruturas comunitárias. Assim, o Sistema de Aprendizagem Tutorial (SAT) desperta as habilidades matemáticas e de outras ciências e tecnologias, e de linguagem e comunicação de forma a colocá-las a serviço da comunidade.
Com o objetivo de oferecer à população rural, indígena e ribeirinha acesso à educação básica (Ensino Fundamental), além de inibir o êxodo rural, em 1986 a Associação para o Desenvolvimento Coesivo da Amazônia (ADCAM), instituição não-governamental que há 27 anos realiza atividades sócio-educativas no Estado do Amazonas, estabeleceu o SAT no município de Iranduba, cidade próxima a capital do estado, Manaus.
Leide Loureiro, responsável pelo SAT na ADCAM, explica que o Sistema possibilita o estudo aprofundado de cada uma das unidades que compõem as cinco capacidades do currículo, propiciando a criação de oportunidades para desenvolver as potencialidades dos cidadãos rurais e estimular as iniciativas individuais para promover a melhoria da qualidade de vida da comunidade.
Segundo a representante da ADCAM, as ações são impulsionadas pela visão da instituição acerca do desenvolvimento das capacidades humanas. “Comungando dos mesmos pensamentos voltados para a educação, cremos em uma nova geração de conhecimento onde as relações estarão fundamentadas no serviço e bem-estar à comunidade”, afirma. “Edificando os indivíduos como agentes de transformação social e espiritual, abraçando segmentos cada vez maiores de suas populações rurais, contribuindo para a construção de uma nova realidade social, uma civilização justa e próspera em constante evolução.”
O programa dialoga com a declaração da BIC que ressalta: “Em tal concepção estão implícitas características como a interdependência das partes e do todo, a indispensabilidade de colaboração, a reciprocidade e ajuda mútua, a necessidade de diferenciar, mas também harmonizar papéis, a necessidade de arranjos institucionais que capacitem em vez de oprimir, e a existência de um objetivo coletivo acima de qualquer elemento constituinte.”
Regiane Gomes de Souza foi aluna, tutora, gestora e hoje trabalha como coordenadora do Programa no Município de Iranduba, Amazonas. “O SAT é uma metodologia muito importante para o desenvolvimento da zona rural. A grande diferença do Programa é que temos teoria-prática-teoria, os alunos são incentivados a realizar pequenos projetos para ajudar no desenvolvimento da comunidade, pois eles são sensibilizados a desenvolver a parte sócio-econômica de forma sustentável, desta maneira são envolvidos a comunidade, a família e os líderes comunitários. Essa ferramenta afetou minha vida de forma positiva, pois aprendi que servir é fundamental para o ser humano, eu sempre tive o pensamento de voltar e ajudar minha comunidade e graças a Deus eu consegui realizar esse sonho”, revela.
Para o bahá’í Iradj Roberto Eghrari, membro do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), uma das experiências que comprovam a veracidade do desenvolvimento de capacidades como ferramenta de transformação social é o Programa de Pré-Jovens, voltado para a faixa etária de 11 a 15 anos. Os grupos de pré-jovens são uma das quatro atividades centrais que formam a ação social da Comunidade Bahá'í, na qual os adolescentes são estimulados a refletir e são empoderados para atuar na transformação de sua própria realidade e de seu contexto social. “Apesar dos adolescentes serem vistos por grande parte da sociedade como aparentemente problemáticos, eles são extremamente capazes de se envolver e servir em prol de sua comunidade”.
Eghrari destaca a experiência do Agrupamento Portal da Glória, que compreende as comunidades bahá’í de Porto Alegre, Canoas, Esteio e Sapucaia (RS), na qual pré-jovens visitaram abrigos de menores. Em 2008, Amanda Schimer tinha 13 anos, e como ato de serviço o grupo de pré-jovens do qual participava arrecadou roupas e brinquedos para doação a crianças do abrigo Renascer, de Canoas, também levamos balas e contamos uma história para elas. “Foi algo novo para mim, sempre passava pelo abrigo, mas nunca tinha visto de perto a realidade daquelas crianças. Foi uma atividade muito agradável”. A jovem ressalta como a experiência contribui em sua vida. “O grupo de pré-jovens me ajudou a passar por dificuldades, me mostrou diferentes pontos de vista e novas formas de ver o mundo. Hoje sou muito agradecida ao programa, pois é através dele, e da minha mudança com ele, que me sinto mais empenhada a ajudar outros pré-jovens a terem a consciência de que podemos transformar positivamente o meio em que vivemos”.
A atividade foi tão relevante que estimulou Amanda a se tornar professora de aula de educação espiritual para crianças, no mesmo abrigo, a experiência começou há três anos. “Em abrigos não temos contato com a família da criança e, por vezes, são alunos transitórios, que vão para casa, mas voltam, ou vão e não voltam mais. Além disso, sempre tem alunos novos, isso torna um pouco mais complicada a questão da assiduidade e continuidade das lições”. Complementa.
Contribuição internacional
A 51ª sessão da Comissão para o Desenvolvimento Social das Nações Unidas teve como tema prioritário a desenvolvimento de capacidades para a eliminação da pobreza, integração social e emprego pleno e condigno. Em 7 de fevereiro, a BIC promoveu um painel de discussão sobre o tópico. Entre os participantes estava a coordenadora da Comissão, Sewa Lamsal Adhikari, Agente Diplomática da Missão Permanente das Nações Unidas no Nepal, que afirmou ser a capacitação cada vez mais vista pela ONU como uma questão vital em prol da transformação social.
“A capacitação está se tornando um dos elementos centrais que sustentam os esforços em prol da realização dos três principais objetivos da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social: erradicação da pobreza, emprego pleno e produtivo e trabalho condigno para todos, e integração social”, disse.
Para Ming Hwee Chong, representante da Comunidade Internacional Bahá’í junto às Nações Unidas, não é por acaso que o tema chegou ao centro das discussões sobre desenvolvimento social. Um segundo painel de discussões promovido pela BIC em 8 de fevereiro, intitulado “Capacitação em Ação”, ofereceu reflexões por parte daqueles que exercem o desenvolvimento nas bases.
Judith Therese Eligio-Martinez, coordenadora da agência de inspiração bahá’í, Associação Bayan, em Honduras, disse que atualmente atende 6000 estudantes do nível colegial em 12 dos 18 estados de Honduras. “(O Programa) é construído sobre a crença na capacidade do indivíduo de tomar decisões para si e ajudar a desenvolver a capacidade dos três principais protagonistas (no desenvolvimento de comunidades): o indivíduo, a comunidade e as instituições”, afirmou.
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