Realizada ontem (16) na famosa praia de Copacabana,
a 5ª edição da Caminhada Religiosa pela Liberdade Religiosa foi marcada por uma
mensagem de solidariedade aos seguidores da Fé Bahá’í, que sofrem acentuada
perseguição no Irã.
Bahá’ís, cristãos, judeus,
muçulmanos, wiccanos, seguidores do Hare Krishna e Santo Daime, membros de religiões
afro-brasileiras, ateus e agnósticos de várias partes do país participaram do
evento promovido pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR). “É uma marcha pela cidadania”, disse o interlocutor
da CCIR, babalawo Ivanir dos Santos. “Mesmo os que não têm fé apoiam a
Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa porque entendem que essa é uma luta
de cada cidadão brasileiro.”
Durante a Caminhada, os bahá’ís
exibiram um enorme banner no qual constava um texto de Sa'di, poeta
iraniano que viveu no século XIII. O poema, que também está exposto na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, diz: “Os seres humanos
são parte de um mesmo corpo | E foram criados da mesma essência e alma. |
Quando a tribulação afeta um membro | Todos os outros membros ficarão
inquietos. | Se não tens compaixão pela dor dos outros | Não és digno de ser
chamado de humano.”
Léo Soares é membro da Comunidade
Bahá’í de Campinas, e veio de ônibus exclusivamente para participar do evento
no Rio de Janeiro. “Se você tem amor pela humanidade, não existe limite. Pode
ser cego, estar em cadeira de rodas, ter qualquer outra deficiência, mas essas
questões na realidade desaparecem por causa desta necessidade, desse amor que
nos motiva”, declarou ele, que é deficiente visual. “Se eu posso estar aqui com essa limitação, outras
pessoas também poderiam estar, fazer um esforço para participar”, disse Léo.
A iniciativa foi fruto de uma
parceria entre a Comunidade Bahá’í do Brasil e a organização não-governamental
internacional United4Iran. Além
dessa intervenção urbana, brasileiros também
carregaram guarda-chuvas de cor vermelha – simbolizando a urgência das ações em defesa
daqueles que não podem se defender no Irã –
com imagens de indivíduos que foram presos no Irã por causa de suas crenças
religiosas, incluindo as sete lideranças bahá’ís condenadas a 20 anos de
prisão.
“Essa é uma oportunidade de dizer
para todos os iranianos e todo o mundo, de uma forma toda especial, que apesar
de estarmos presos em nosso próprio egoísmo a gente se solidariza com os
irmãozinhos que estão presos fisicamente no Irã, mas cujas almas, certamente,
estão livres”, afirmou Léo.
Liberdade religiosa no Brasil e no
mundo
Segundo Henrique Pessoa, Delegado da Polícia Civil do Rio
de Janeiro, há motivos para que o Brasil se preocupe com a questão da liberdade
religiosa. “Vejo que o país está
caminhando para um lado perigoso, gradativamente vem perdendo a característica
de um Estado Laico”, analisa. “O número de casos de degradação de monumentos,
sedes e residências de religiosos, a proibição de manifestações, entre outros
atos de discriminação aumentaram 400% desde 2008”, aponta o delegado, que é um dos grandes apoiadores da CCIR.
A perseguição religiosa no Brasil
ocorre principalmente contra as religiões afro-brasileiras. “O que os
seguidores de religiões afro-brasileiras sofrem aqui se assemelha em vários
aspectos ao que os bahá’ís enfrentam no Irã”, comparou o representante da
Comunidade Bahá’í do Brasil, Iradj Roberto. “Lugares sagrados são vandalizados,
crianças são assediadas nas escolas, a população é incitada ao preconceito e à
discriminação... O protesto da população, juntamente com políticas públicas que
garantam o direito de expressar a crença religiosa, ajuda na redução de
intolerância em nosso país como no mundo”, acredita Iradj.
“É fundamental que nós vejamos a
terra como um só país; é fundamental considerar todas as religiões como uma
só”, defendeu o representante bahá’í, de cima do trio elétrico que percorreu a orla de Copacabana durante boa parte do dia.
“Por acreditarem nesse princípio da
unicidade do gênero humano, jovens estão sendo expulsos das universidades,
homens e mulheres não têm o direito de trabalharem. Eu lhes pergunto: por
quê?”, perguntou à multidão. “Por uma única razão: professar uma religião
diferente da crença que é imposta pelo Estado do Irã”, respondeu em seguida.
Para a diretora da área de relações externas do Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ), Cristina Brito, é preciso
diferenciar a ‘religião’ e os ‘religiosos’: “Se os homens seguissem os
ensinamentos religiosos, estariam contribuindo para a abolição de toda forma de
intolerância presente no mundo”, afirmou ela durante a coletiva de imprensa que
antecedeu o evento. “O problema é que os homens interpretam os versículos
sagrados e buscam utilizá-los para benefício próprio, para atender as vaidades
do ego e não a Deus”, analisou.
Sarita Schaffel, presidente da FIERJ,
também esteve presente na Caminhada. “Como judia eu me solidarizo com os bahá’ís
pela falta de liberdade que estão enfrentando no Irã”, declarou ela. “O Brasil
deve ter um papel importante nos organismos internacionais, tendo uma postura
de protesto contra a discriminação em governos totalitários como o Irã”,
afirmou Sarita.
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