Começou hoje (15) no Aterro do
Flamengo, a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20. O evento segue até 23 de
junho e conta com a participação de cerca de 50 mil pessoas, entre brasileiros
e estrangeiros, de várias organizações da sociedade civil.
Na tenda Religiões por Direitos, uma
parceria entre a Comunidade Bahá’í do Brasil, a Iniciativa das Religiões Unidas
(URI), a ABRAWICCA, a Brahma Kumaris e o Centro de Umbanda Casa do Perdão
promoveu um painel acerca do papel da religião na sociedade, com foco na ação
social para o desenvolvimento.
“Num mundo cada vez mais
secularizado, não estamos falando de rituais e dogmas, mas sim de valores
espirituais intrínsecos de cada ser humano e da forma como esses valores podem
ser postos em prática em forma de ação social”, afirmou Mary Aune, membro da
delegação bahá'í para o evento.
Para os bahá’ís, o conceito da
guardiania é essencial para que os direitos humanos possam atingir sua mais
elevada expressão. “É a relação do cuidado e do cuidador, do direito e da responsabilidade”,
afirmou Mary. “Isso nos leva para uma reflexão acerca do direito à liberdade
religiosa e da nossa responsabilidade de proteger a liberdade religiosa do
outro.” Para ilustrar esse conceito, ela trouxe o exemplo da perseguição
sofrida pelas religiões de matriz africana no Brasil e traçou um paralelo com a
situação imposta aos bahá’ís no Irã.
As falas dos demais participantes
convergiram para os interesses comuns de desenvolvimento humano – tanto no
nível individual quanto comunitário. Para Mavesper Cy Cerydwen, representante
da religião Wicca, os seguidores de religiões afro-brasileiras são de fato o
grupo religioso que sofre o maior grau de perseguição no Brasil. “Mas o
preconceito e a discriminação contra bruxos e wiccanos, que representam uma
parcela relativamente pequena da população brasileira, é consideravelmente alto,”
afirma ela. “A pergunta mais comum quando dizemos que somos bruxas é ‘cadê a
sua vassoura?’. Outros acham que é uma piada.”
“Muitas pessoas perdem seus
empregos pelo fato de serem bruxas; muitas mães perdem a guarda de seus filhos
porque seus companheiros as acusam de serem uma má influência para as pessoas”,
diz Mavesper.
Para a espiritualista Ana Maria,
da URI – Salvador, a unidade na diversidade é algo que deve ser aprendido na
família e na escola. “Na minha casa, cada um tem uma religião diferente, e meus
pais nos ensinaram a valorizar as diferenças e conviver com elas de maneira
pacífica. Mas muitas crianças não tem essa oportunidade em casa, e portanto as
escolas precisam favorecer o respeito e a tolerância desde cedo”.
A representante da Brahma Kumaris
junto às Nações Unidas, Valeriane Bernard, compartilhou a visão de que os
indivíduos precisam estar em harmonia interior e exterior a fim de poderem
contribuir com o desenvolvimento da sociedade. “A harmonia é tanto uma opção
individual quanto um trabalho. É preciso compartilhar as ferramentas para
aprender a se harmonizar consigo mesmo para então comunicar essa harmonia para
com os outros”, afirmou ela.
Para o Reverendo Elias Pinto, a
solução para os conflitos religiosos virá quando passarmos a enxergar o Sagrado
de maneira diferente. “Precisamos ser como a mãe que enxerga a diversidade em
sua casa, entre seus filhos, e fora dela, entre os filhos de outras mães”.
“A oportunidade de conhecer
pessoas diferentes faz com que passemos a respeitar as diferenças, a valorizar
os amigos que fazemos ao longo desse caminho”, afirmou ele.
Elias finalizou sua fala dizendo que os bahá’ís são uma face
bela do Irã, assim como o são tantos outros grupos que hoje sofrem discriminações
e perseguições. “Precisamos olhar para a beleza e crescer a luz do coração, superar
as fases da história que passaram e que não tem mais lugar, a fim de que essas
fases cedam espaço para que o Sagrado possa envolver a todos.”
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