Quando o interesse comum pela paz mundial torna-se o bem maior a ser alcançado, os cidadãos reconhecem ser possível haver uma interação pacífica dentro da diversidade humana. É o que se pode verificar nitidamente nas cidades baianas de Ribeira do Pombal e Banzaê e na área indígena dos kiriris, que engloba os povoados de Pau-Ferro, Marcação e Mirandela. Ali, diversos indígenas participam dos estudos promovidos pela comunidade bahá’í, voltados para a promoção da unidade entre os povos da Terra.
Durante os dias 11 e 15 de janeiro de 2012, no município de Ribeira do Pombal (BA), membros da comunidade local kiriri participaram do curso de especialização voltado para professores de aulas de educação espiritual para crianças de 5 e 6 anos de idade. Os participantes estudaram juntos as 24 novas lições que complementam o curso Ensinando Aulas para Crianças, o terceiro da sequência do Instituto Ruhí de Capacitação. Dos onze participantes, nove eram índios kiriris.
Confiança, transformação e serviço à comunidade
Os kiriris têm uma história de conflitos relacionados à terra, e por isso têm uma grande desconfiança em relação aos não-índios da região. Eles tomam todos os cuidados com qualquer iniciativa externa que surja dentro ou ao redor de seu território a fim de evitar maus-tratos e exploração.
A relação com os bahá’ís, contudo, tem sido avaliada pelos indígenas como uma referência positiva para a população local. Os bahá’ís desenvolvem atividades com os kiriris desde o início de 1960, com a vinda de alguns instrutores viajantes à região. Mais tarde, na década de 1990, algumas famílias bahá’ís se consolidaram como pioneiras, ajudando a estabelecer os pilares da comunidade bahá’í local.
Alon Bispo começou a trabalhar com os kiriris em 2008. “Eu viajava para a área indígena como facilitador itinerante, ajudando os amigos indígenas avançassem na sequência de estudos do Instituto”, conta ele. “Naquela época, os programas bahá’ís não eram sustentáveis: ocorriam durante determinado tempo e depois eram extintos”, comenta o jovem, que hoje é Coordenador Regional do Instituto Ruhí de Capacitação para a Bahia, Sergipe e Alagoas.
A partir de janeiro de 2010, foi iniciado o processo sistemático de capacitação de professores indígenas de escolas públicas com foco na educação espiritual de crianças e pré-jovens na área dos kiriris. Segundo Alon, “Capacitar os próprios índios para assumirem as atividades no povoado deles ajudou o programa a avançar efetivamente na transformação individual e coletiva, contribuindo para a unidade entre os moradores da região”.
“O Instituto chegou também aos jovens alunos de escolas públicas da região, contando com professores e alguns dos alunos (que têm entre 15 e 20 anos). Esses moradores foram envolvidos no processo de capacitação para serem futuros professores de aulas de educação espiritual para crianças e monitores de grupos de pré-jovens”, comenta Alon.
Os cursos do Instituto Ruhí tem o propósito de fazer com que os participantes passem a “se ver como agentes ativos de seu próprio aprendizado, como protagonistas de um esforço constante de aplicar o conhecimento realizar transformação individual e coletiva1”. Nesta perspectiva, a população indígena da região está gradativamente introduzindo os princípios da Fé Bahá’í em suas atividades cotidianas, demonstrando a universalidade dos ensinamentos de Bahá’u’lláh.
Alon relata que os índios envolvidos na educação dos pré-jovens e crianças sentem um desejo de se desenvolverem como indivíduos e de mostrar para a tribo que é possível conviver em paz e harmonia. “A maioria dos que se comprometem com o serviço não são membros da comunidade bahá’í. São pessoas que sentem que é preciso uma educação de valores, que não costuma ser ensinadas nas escolas – e a metodologia oferecida pelos bahá’ís tem-se provado bastante eficiente”, conta ele.
Como as atividades bahá’ís valorizam os conhecimentos tradicionais e o desenvolvimento das capacidades de cada indivíduo, independentemente de sua origem étnica, gênero, raça ou outra característica de identidade secundária, os kiriris sentem que a proposta bahá’í não entra em conflito com aquilo que eles acreditam ser o melhor para os rumos da comunidade. “Dos 24 índios participantes, apenas quatro são bahá’ís. Ainda assim, todos passaram pelo mesmo processo de capacitação, que tem início com o estudo do livro Reflexões Sobre a Vida do Espírito”, informa Alon. Atualmente, a comunidade local conta com um grupo para pré-jovens e duas aulas para crianças, nas quais os apoiadores são jovens da própria região. Além disso, seis índios participam sistematicamente de círculos de estudo.
Conferência Internacional
Para promover um aprofundamento sobre a visão bahá’í acerca do destino glorioso reservado aos povos indígenas e do poder do processo de capacitação desenvolvido pelo Instituto Ruhí no fortalecimento dessas culturas, será realizada entre os dias 20 e 22 de março de 2012 a Conferência Internacional Bahá’í dos Povos Indígenas, na cidade de Nedrini, no Panamá. A expectativa é que mais de mil indígenas participem do evento, que contará com a presença de um membro da Casa Universal de Justiça, dos Conselheiros Continentais para as Américas e de representantes de outras instituições bahá’ís.
A representação brasileira ficará a cargo de oito participantes, entre Kiriris e Mundururus (da região amazônica). Além da programação oficial da Conferência, os indígenas terão a oportunidade de participar de cinco dias de visitas a povoados da região, nos quais serão realizadas consultas sobre o envolvimento das diversas etnias nas atividades de desenvolvimento espiritual e material promovidas pelos bahá’ís.
Um caminho comum de serviço
Mais de 180 países e territórios já aderiram ao programa desenvolvido pelo Instituto Ruhí, estabelecido mundialmente há cerca de sete anos. O objetivo principal é o de promover o aperfeiçoamento espiritual dos indivíduos e favorecer sua contribuição na construção de uma sociedade mais digna e justa. Os cursos de capacitação auxiliam indivíduos e comunidades a estabelecer quatro atividades centrais de transformação social: aulas de educação espiritual para crianças; grupos de empoderamento de pré-jovens; círculos de estudo de aprofundamento espiritual e reuniões ecumênicas de oração e meditação. Tanto os cursos quanto as atividades decorrentes deles são gratuitas e abertas à comunidade em geral.
“É uma realização de enormes proporções que o mundo bahá’í tenha obtido êxito em desenvolver uma cultura que promove uma maneira de pensar, estudar e agir na qual todos se consideram trilhando um caminho comum de serviço – apoiando uns aos outros e avançando juntos”, declarou a Casa Universal de Justiça em 2010.
1 Mensagem da Casa Universal de Justiça aos bahá’ís do mundo, Ridván de 2010.
Esse artigo foi publicado no Bahá'í Brasil Nº 33, nas páginas 4 e 5.
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