Abdias Nascimento participa da 1ª edição da Caminhada
pela Liberdade Religiosa, no Rio de Janeiro. Imagem
do arquivo pessoal de Iradj Eghrari, na foto com Abdias e
Elisa Nascimento, Humberto Adami e amigos.
No próximo domingo (13), representantes da Assembleia Espiritual Nacional dos Bahá'ís do Brasil - órgão máximo da Fé Bahá'í no país - participarão, juntamente com oficiantes do cristianismo, candomblé, islamismo e outras religiões, da cerimônia de deposição das cinzas de Abdias Nascimento, pioneiro do Movimento Negro no Brasil. A solenidade está marcada para as 9h.O local, no Alto da Serra da Barriga, em Alagoas – onde foi erguido o Quilombo dos Palmares, um dos maiores símbolos da resistência negra no Brasil – foi escolhido pelo próprio Abdias, segundo informou Elisa Larkin do Nascimento, esposa de Abdias. “Ele pediu que suas cinzas fossem depositadas ali, e por isso organizamos essa homenagem”, conta Elisa. Acadêmicos e personalidades nacionais e internacionais, além de familiares e amigos, também farão parte da programação do evento.
A vida e obra de Abdias Nascimento serão celebradas no dia anterior (12) durante o Seminário Afro-Brasileiro Ìgbà Ábídi, promovido pelo Projeto Raízes Áfricas. O evento ocorrerá na Avenida Comendador Gustavo Paiva, 2990, em Maceió. O objetivo é recontar a trajetória de Abdias em defesa da igualdade racial no Brasil e no exterior, proporcionando também um espaço de debate aberto ao público sobre a temática racial.
Abdias recebeu em 2001 o Prêmio Cidadania Mundial, oferecido pela Comunidade Bahá'í do Brasil, que naquele ano homenageou indivíduos e organizações com atuação reconhecida no combate à xenofobia e ao racismo.
Para Iradj Roberto Eghrari, membro da Assembleia Espiritual Nacional bahá'í, a vida e as conquistas de Abdias serão para sempre lembradas como um símbolo da luta pela igualdade racial no Brasil e no mundo. “É uma história de quase um século de dedicação integral à causa da igualdade. Fosse pela militância ou pelas artes, Abdias tinha o dom de despertar nas pessoas a consciência da necessidade de transformar o mundo ao seu redor.” Iradj é um dos convidados a fazer uso da palavra durante o ato inter-religioso programado para domingo. Além dele, participarão do evento o casal Heather e Gabriel Marques, também membros da Assembleia Nacional.
Ao longo de sua trajetória, Abdias recebeu, além da premiação concedida pelos bahá'ís, um Tributo da Universidade Internacional da Flórida por contribuição destacada à dignidade, herança e personalidade cultural e histórica dos povos de descendência africana nas Américas, em Miami, 1987. Além disso, foi destacado com a Menção Honrosa do Prêmio de Direitos Humanos da OAB - São Paulo, em 1997; recebeu o Prêmio UNESCO, categoria Direitos Humanos e Cultura de Paz, em 2001, e o Prêmio Comemorativo das Nações Unidas por Serviços Relevantes em Direitos Humanos, em 2003.
Um pouco da biografia de Abdias
Proveniente de família humilde, o paulistano Abdias Nascimento (1914-2011) graduou-se em Contabilidade em 1929. Alistou-se no exército aos 15 anos de idade. Um ano mais tarde, tornou-se defensor da Frente Negra Brasileira e lutador contra a segregação racial no comércio de São Paulo. Criou, em 1938, o Congresso Afro-Capineiro como forma de estabelecer a igualdade da raça humana, promovendo os mesmos direitos para negros e brancos.
De sua luta derivou a criação do Teatro Experimental Negro, uma iniciativa que trouxe visibilidade à uma parcela marginaliza pela sociedade brasileira durante o período da escravidão no Brasil. A entidade patrocinou a Convenção Nacional do Negro, ocorrida entre os anos de 1945 e 1946, que propôs o estabelecimento de políticas públicas para a população afro-descendente e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria.
Abdias organizou, em 1950, o primeiro Congresso do Negro Brasileiro e, em 1981, liderou a criação da Secretaria do Movimento Negro do PDT – partido que ajudou a criar. Foi o primeiro deputado negro que dedicou seu mandato ao combate ao racismo na sociedade brasileira, entre os anos de 1093 a 1987. Prossegue na defesa dos direitos humanos como senador da República no ano de 1991 e de 1996 a 1999.
Em 1991, foi nomeado pelo então governador Leonel Brizola como Secretário de Defesa e Promoção da Populações Afro-Brasileiras do Estado do Estado do Rio de Janeiro e, mais tarde, tornou-se o primeiro titular da Secretaria Estadual de Cidadania e Direitos Humanos.
Abdias faleceu na noite do dia 23 de maio de 2011, no Hospital do Servidor do Rio de Janeiro, aos 97 anos de idade.
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