Representantes do Brasil e Internacionais debateram sobre políticas públicas contra intolerância racial
Participantes do Afro XXI.
Entre os dias 16 a 19 de novembro, aconteceu o Encontro Ibero-Americano do Ano Internacional dos Afrodescendentes em Salvador (BA). Da primeira parte do evento destinado aos debates da sociedade civil, representantes de nações latino-americanas, caribenhas e africanas - mais de 30 países – compareceram ao evento organizado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e pelo Ministério das relações Exteriores (MRE), incluindo quatro representantes da comunidade bahá’í do Brasil.
O encontro destinado aos Chefes de Estado contou com a presença da presidenta Dilma Roussef e dos presidentes Jorge Carlos Fonseca, do Cabo Verde; Alpha Condé, da República da Guiné e José Mojica, do Uruguai, além dos primeiros-ministros do Uruguai, São Vicente e Granadinas; do vice-presidente da Colômbia; ministros de Angola, Benin, Cuba, Peru, e de representantes de Barbados, Costa Rica, Honduras, Nigéria, República Dominicana e Venezuela.
O evento denominado de Afro XXI teve por objetivo revisar a implementação das políticas públicas contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e intolerâncias correlatas delineadas no âmbito da Conferência Mundial das Nações Unidas ocorrida em Durban, na África do Sul, no ano de 2001; além de apontar os desafios imediatos para os governos americanos no enfrentamento ao racismo.
De acordo com estimativas do Banco Mundial, do UNICEF e da CEPAL, entre 150 e 200 milhões de habitantes da América Latina e do Caribe são afrodescendentes, o equivalente a 30% ou 35% da população regional. No Brasil, de acordo com dados do último Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 97 milhões de pessoas ou 50,7% da população declaram ter ascendência africana.
Embora haja um reconhecimento de significativos avanços nos instrumentos legais relativos ao combate ao racismo e discriminação com base na cor da pele, crença e religião, Gabriel Marques, um dos representantes bahá’ís no AfroXXI, destacou que “é preciso ocorrer uma mudança mais profunda no nível mental, para que estas se convertam em novas formas de agir e se cristalizem em mudanças reais no mundo”.
O evento proporcionou debates e mesas redondas sobre importantes temas relacionados à superação das desigualdades raciais, tais como: juventude e garantia de direitos, contribuição africana na formação das identidades nacionais e regionais, mulheres negras: avanços e desafios nos processos de inclusão política, racismo e representação midiática, dentre outros. Durante um dos debates, a peruana Rocío Muñoz abordou o papel da mídia e ressaltou que “os meios de comunicação representam os espaços concretos onde as imagens e representação distorcidas se reproduzem”. Por essa razão, ela defende a necessidade de efetuar ajustes e promover essa conscientização em toda imprensa.
O encontro também se destacou como ponto de convergência para uma ampla celebração da cultura africana e uma oportunidade para se renovar os laços de amizade com reconhecidos parceiros do movimento negro e social brasileiro e latino-americano e do Caribe, assim como para se fortalecer os laços de cooperação com diferentes representantes do governo brasileiro e de outros organismos internacionais presentes.
O documento intitulado Carta de Salvador, contendo as principais percepções, demandas e desafios enfrentando os afrodescendentes foram entregues pela representante da sociedade civil, Sra. Ipsy Campbell, ao Sr. Enrique V. Iglesias, Secretário geral Ibero- Americano. O documento prevê a criação de um fundo internacional de desenvolvimento econômico para as populações afrodescendentes, destinados à educação e cultura dentre outros pontos e foi, então, encaminhado aos Chefes de Estado Ibero-Americanos, Caribenhos e Africanos reunidos igualmente em Salvador, Bahia, no contexto do encontro Afro XXI. De acordo com a Sra. Epsy Campbell, tal fundo “deve garantir uma resposta às necessidades dos afrodescendentes e não para substituir as responsabilidades dos governos, mas sim para complementá-la e reforçá-la".
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