Roxana Saberi também participou de debates e concedeu entrevistas no Rio e em São Paulo
No dia 24 de novembro a jornalista irano-americana Roxana Saberi, ex-prisioneira política no Irã, esteve em Brasília para uma audiência no Palácio do Planalto com Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, na qual entregou uma carta direcionada ao presidente Lula.
No documento Roxana pede que Lula apele ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad para que liberte os mais de 500 prisioneiros políticos encarcerados hoje na República Islâmica, entre eles militantes estudantis, ativistas pelos direitos das mulheres, bahá'ís, jornalistas e blogueiros. "Se Vossa Excelência tivesse sido sindicalista no Irã, teria compartilhado o mesmo destino de Mansour Ossanlu [sindicalista iraniano], que em 2007 foi sentenciado a cinco anos de prisão", diz Roxana em trecho da carta. Ela pede ainda que Lula modifique sua postura em relação à resolução da ONU, que denuncia a violação dos direitos humanos no Irã (o Brasil se absteve de votar a favor da resolução no 3º Comitê da Assembleia Geral), e vote a favor da resolução na plenária da Assembleia Geral, em dezembro.
A jornalista também participou de uma mesa de debates na Câmara dos Deputados na manhã do dia 24 no auditório Freitas Nobre, que contou com a participação dos deputados Luiz Couto (PT/PB) e Chico Alencar (PSOL/RJ); o jornalista Washington Araújo, a jornalista da Folha de São Paulo Eliane Cantanhêde e a cientista política Mary Caetana Aune-Cruz, representante da Comunidade Bahá’í do Brasil.
O deputado Chico Alencar falou sobre a importância da visita de Roxana ao Brasil: “ela traz uma mensagem vivida, não é uma elaboração política, abstrata... é solidária com outras pessoas que estão lá, inclusive condenadas por crimes de consciência, como os líderes bahá'ís, sentenciados a 10 anos de cadeia. Nós, como país republicano, como um país plural, temos a obrigação, sobretudo na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, de estarmos atentos a essa situação e trabalharmos para que essas injustiças não aconteçam nem no Irã nem em qualquer parte do mundo”.
Para o deputado Luiz Couto, que a presentou a proposta do evento na Comissão de Direitos Humanos, a experiência da jornalista é importante não só para exemplificar a violação dos direitos humanos, mas também como forma de reflexão: “É alguém que sofreu a experiência de violação dos direiros humanos, presa juntamente com outras pessoas, quando o governo iraniano a acusou, de forma injusta, que ela seria espiã... acho importate para que a gente possa conhecer o que está ocorrendo e possa exigir também do nosso governo uma manifestação mais profunda, mais consistente”, declara.
À tarde Roxana deu palestra para estudantes no Auditório Joaquim Nabuco, da faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB). Além de Roxana, participaram do debate o senador Geraldo Mesquita (PMDB/AC), vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal; a representante bahá'í Mary Caetana Aune-Cruz; e a Professora Doutora Marilde Loiola de Menezes, diretora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (IPOL/UnB).
Para a professora Marilde a importância da vinda de Roxana está ligada aos direitos humanos universais “nesse sentido, se existem povos que ainda sofrem o que ela sofreu, não diz respeito somente a um país; onde há um povo que sofre, diz respeito a todos os países, governos e cidadãos”, afirma ela.
A agenda da jornalista no Brasil teve início no dia 20 de novembro na cidade de São Paulo, com uma série de entrevistas e participação nos debates do jornal Folha de São Paulo e da Universidade de São Paulo (USP). Roxana também fez o lançamento de seu livro “Entre Dois Mundos - Minha vida de prisioneira no Irã”, em que relata a experiência vivida como prisioneira política acusada de espionagem para os Estados Unidos. Após a viagem para Brasília, ela seguiu para o Rio de Janeiro, onde deu palestra na PUC-Rio e concedeu entrevistas. Roxana retornou aos Estados Unidos no dia 28 de novembro.
A jornalista
Roxana foi presa pelas autoridades iranianas em janeiro de 2009 e somente em 8 de março recebeu a primeira visita de seu advogado na prisão de Evin, Teerã. Em 8 de abril foi condenada a 8 anos de prisão por espionagem. A jornalista, cujo pai é iraniano, estava morando no país desde 2003 trabalhando como correspondente internacional da agência de notícias norte-americana Feature Story News (FSN). Ela também fazia reportagens para organizações como BBC, ABC Radio, National Public Radio (NPR) e Fox News, enquanto escrevia um livro sobre a sociedade iraniana.
Roxana compartilhou cela com Mahvash Sabet e Fariba Kamalabadi, as duas mulheres que compõem o grupo de sete bahá’ís presos (hoje na Prisão de Gohardasht) sob acusações contraditórias, condenados recentemente a 10 anos de prisão. As duas mulheres são conhecidas pelos demais prisioneiros por serem espirituosas e “levantar a moral” dos demais. Foram elas que gentilmente cuidaram de Roxana e lavaram suas roupas durante uma greve de fome que durou duas semanas.
Os Estados Unidos questionaram a legitimidade do sistema judiciário iraniano porque não foi permitida a presença de seu representante no julgamento de Saberi. Após a apelação, a condenação de espionagem foi reduzida para possessão de informação sigilosa, resultando em dois anos de “pena suspensa”. Roxana saiu da prisão em maio de 2009 após uma campanha internacional em sua defesa.
Assim como Roxana Saberi, as duas bahá’ís com quem dividiu cela e diversos bem como grupos militantes de direitos humanos no Irã são presos de consciência - pessoas encarceradas devido à sua convicção política, religiosa, etnia ou orientação sexual; consideradas afrontas pelo governo iraniano, ainda que não tenham usado ou incitado a violência. A Fé Bahá’í, apesar de ser a maior minoria religiosa no Irã, não é reconhecida no país e seus seguidores são constantemente perseguidos. Apesar da existência de ampla documentação acerca do tratamento dispensado aos bahá'ís, as autoridades iranianas negam a perseguição.
Desde que foi libertada, Roxana se juntou a outras pessoas para trazer a público a situação dos direitos humanos no Irã, realizando palestras, escrevendo artigos e dando entrevistas.
Assista ao vídeo do debate na Folha de São Paulo.
Imagens: http://iranianbrazil.blogsky.com/
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