Exmo. Sr. Presidente,
Sua visita ao Brasil, a convite do Presidente Lula, suscita uma reflexão sobre as relações entre os dois países. Brasil e Irã têm aumentado sua atuação no cenário mundial; são países emergentes, com enorme influência geopolítica, e apresentam populações marcadas pela diversidade. Nada mais natural, portanto, que promover esta aproximação, compartilhando boas práticas e verificando possibilidades de cooperação.
Mas diante de tantas semelhanças chamamos sua atenção para o seguinte fato: enquanto no Brasil, em meio a inúmeros desafios, adota-se um modelo de convivência em meio à diversidade, com políticas direcionadas para a ampliação da participação e o respeito aos direitos humanos, no Irã há práticas temerárias de restrição de direitos e de perseguição às minorias raciais, de gênero, etnia, orientação sexual ou identidade religiosa.
Lá, os bahá'ís (maior minoria religiosa presente no país) enfrentam as mais vastas consequências da discriminação religiosa, tendo negadas licenças de trabalho, acesso à educação e justiça. Suas propriedades e locais sagrados são confiscados e depredados. Nos últimos 30 anos, mais de 250 foram executados; mais de 200 foram presos arbitrariamente, intimidados e molestados desde 2005 – tudo por não aceitarem negar sua fé. Seus 7 líderes nacionais continuam presos arbitrariamente há mais de 18 meses tendo sua defesa sido constantemente obstaculizada.
A mídia controlada pelo governo tem vilipendiado os bahá'ís, com centenas de artigos, programas de rádio e televisão, postagens na web e folhetos com discursos de ódio, promovidos por clérigos e oficiais governamentais – enquanto os bahá'ís são impedidos de exercer o direito de resposta.
Já no Brasil, os bahá'ís participam na construção da democracia e no desenvolvimento de suas comunidades – atividades reconhecidas pela sociedade e governo brasileiros. Aqui podem praticar sua fé com liberdade e segurança, de acordo com os princípios da unidade dos povos, da igualdade racial e de gênero, da promoção da paz e do serviço à humanidade.
Como justificar esta diferença de tratamento? Por que os bahá'ís, na maior parte do mundo, são vistos como indivíduos de boa vontade, comprometidos com o avanço da sociedade, sem envolvimento em política partidária e no Irã, justamente a terra em que sua Fé nasceu no século XIX, recebem tratamento tão degradante?
É responsabilidade dos governantes promover o bem comum, defender os interesses de seus cidadãos e estimular o desenvolvimento humano, com justiça e dignidade. Esperamos que o diálogo entre os dois Presidentes estimule a reflexão sobre a necessidade de novas políticas no Irã que permitam aos seguidores de todas as religiões, incluindo os bahá'ís, contribuir com o progresso de sua terra natal.
Atenciosamente,
* Esta carta conta com o apoio dos seguintes indivíduos e organizações, que autorizaram a divulgação em seu nome (por ordem de apoios recebidos):
INDIVÍDUOS:
- Dr. José Gregori, ex-Ministro da Justiça e ex-Secretário Especial dos Direitos Humanos do Brasil
- Dr. Celso Lafer, ex-Ministro das Relações Exteriores do Brasil
- Dra. Maria Eliane Menezes de Farias, jurista
- Dra. Flávia Piovesan, jurista
- Dr. Aldir Guedes Soriano, jurista
- Sr. Pompeo de Mattos, deputado federal
ORGANIZAÇÕES:
- ABGLT - Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros
- CONECTAS Direitos Humanos
- INESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos
- CEN - Coletivo de Entidades Negras
- Associação Vida Inteira
- IDDH - Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos
*** Para apoiar a Carta Aberta ao Presidente Mahmoud Ahmadinejad, da República Islâmica do Irã, envie um e-mail para a Comunidade Bahá'í do Brasil deixe seu comentário a esta matéria no final da postagem. ***
2 comentários:
concordo com a carta, liberdade em todo territorio mundial!
Li com atenção a entrevista do Presidente Mahmoud Ahmadinejad e nela uma referência aos Bahá'ís, não considerados religiosos, mas grupo político empenhado na conquista do Poder estatal. Na Wikipédia obtive informação sobre esse movimento universalizante e cheguei ao sítio da Comunidade Bahá'í de Brasília.
Mente o Presidente Iraniano quando classifica os Bahá'is como organização política; isto é pretexto para excluí-los da participação na vida pública do Irã e para justificar a quebra do direito de exercerem livremente sua fé religiosa.
Muito me impressionou positivamente os princípios, a forma de organização e de atuação da Comunidade Religiosa Bahá'i. Que o poder de Deus os fortaleça cada vez mais para o bem da humanidade e do planeta Terra.
Saudações solidárias.
Juiz José Berlange Andrade
Terenos/MS/Brasil
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