Tanto as questões relacionadas com o Protocolo de Kioto quanto aquelas ligadas aos compromissos de longo prazo para a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas ao redor do globo têm gerado disputas acirradas entre os países. O G77+China (grupo de países em desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte) tem opiniões fortes relacionadas à responsabilidade dos países desenvolvidos quanto à redução das emissões de carbono, ao financiamento de medidas de adaptação e mitigação e à transferência de tecnologia para os países do grupo). Por outro lado, os países desenvolvidos (em especial os membros da União Européia e do grupo chamado de Umbrella, composto pelos Estados Unidos, Austrália e outros) argumentam que os países em desenvolvimento precisam assumir compromissos maiores relacionados à redução das emissões e da elaboração e efetivação de planos nacionais que tratem da temática.
“A participação da sociedade civil nas discussões sobre mudanças climáticas é marcantemente menor que em outros espaços temáticos das Nações Unidas”, relata Mary, que acompanha o sistema ONU para temas como mulheres, igualdade racial, direitos humanos e meio ambiente. “Mesmo assim, espera-se que as demandas provenientes da sociedade civil possam gerar impacto sobre as decisões dos Estados”, afirma ela.
Um dos ponto que a Comunidade Bahá'í vem trabalhando para ver refletido no texto final é a inserção de referências específicas sobre as mulheres, que em todas as partes do mundo têm um papel essencial tanto na prevenção de danos resultantes das mudanças climáticas quanto na promoção de uma mudança substantiva na cultura da população para contribuir com a diminuição dos efeitos causadores destas mudanças. “Em países em que há ocorrência de terremotos, por exemplo, se as mulheres forem treinadas para realizar procedimentos de evacuação os locais de perigo, os índices de mortalidade são substantivamente menores; e nos lugares em que elas são capacitadas em programas de educação ambiental, é notório o efeito multiplicador nas comunidades”, explica Mary. A BIC faz parte do Global Gender and Climate Alliance (GGCA), um grupo cuja missão é levantar estas questões para as delegações nacionais para influenciar os resultados das negociações nas fases preparatórias e também durante a Conferência Mundial em dezembro. O GGCA tem um programa de capacitações voltados para membros das delegações governamentais que participam das reuniões sobre mudanças climáticas, em que oferecem a oportunidade a estes atores de receberem informações sobre a relevância de um enfoque de gênero neste tipo de decisão global.
Apesar de todas as dificuldades relacionadas aos possíveis compromissos globais para a redução de emissões de carbono e para financiar mudanças essenciais na forma como as economias mundiais estão organizadas, Mary acredita que esta é uma oportunidade para que os governos e também a sociedade possam se comprometer com a saúde do planeta. “Não se trata mais de pensar somente nas gerações futuras: estamos vivenciando as alterações no clima todos os dias. Não é algo que acontecerá daqui alguns anos, como se pensava até pouco tempo. Só na semana passada tivemos pelo mundo terremoto, tsunami, enchente, tufão – isso sem falar no degelo constante das calotas polares, que eleva o nível do mar e destrói as pequenas ilhas, deixando um número enorme de pessoas literalmente sem casa, sem cidade!”, lembra ela. “E no Brasil, onde achamos que estamos longe disso tudo, ainda temos a seca que se alterna com chuvas torrenciais no nordeste; as chuvas e tempestades que destroem plantações no sul, o calor que aumenta a cada ano por todo o país...”, completa.
Para Mary, a responsabilidade é de todos. “Estados, comunidades, empresas e indivíduos precisam fazer sua parte. A ciência evoluiu muito, e hoje temos plena consciência das consequências de não pensar na sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Conhecimento é poder, e portanto temos o poder de mudar. Se cada um tomar para si a responsabilidade moral e ética de suas ações, poderemos superar a crise climática que se apresenta diante de nossos olhos”, afirma.
Está prevista ainda a realização de mais um seminário preparatório antes da Conferência Mundial. Será em Barcelona, entre os dias 2 e 6 de novembro.
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