Por Caroline Samandari
Duas semanas se passaram desde quando escutei a noticia alarmante: Aziz Samandari, o meu primo em Teerã foi preso por oficiais da inteligência iraniana que invadiram a sua casa. Até hoje nenhuma acusação formal foi feita a ele, e o acesso a um advogado e a receber visitas de parentes lhe foram negado.
Quando leio o email enviado pela sua esposa, eu começo a chorar. Não posso evitar pensar no meu avô, Professor Manucher Hakim, um médico renomado, morto com um tiro em 1981 enquanto trabalhava no Irã. Eu tinha dois anos e na época vivia na Suíça, e era ainda muito jovem para entender o tamanho da tragédia que se desenhava.
Também penso no meu tio, Bahman Samandari, o pai de Aziz, executado por autoridades iranianas em março de 1992, um dia depois de ter sido chamado para ser interrogado. Eu tinha treze anos, e o meu pai de Paris contou-me a terrível noticia.
Porque os membros da minha família são sempre o alvo? Que crime todos eles cometeram?
A resposta é simples: eles são membros da comunidade bahá'í, a maior minoria religiosa do país, e a mais perseguida. Os seguidores dessa religião vêm sendo o alvo de sistemática perseguição no Irã desde o nascimento da Fé Bahá'í na metade do século XIX.
Em 1979, com o estabelecimento da República Islâmica do Irã, as perseguições tomaram um novo rumo, tornando-se uma política oficial do governo. Desde então, mais de 200 bahá'ís foram executados, centenas foram presos, e milhares privados de trabalho, pensões e acesso à educação superior. Lugares sagrados e cemitérios foram confiscados, vandalizados ou destruídos.
Os bahá'ís, que têm muito amor pelo seu país, estão profundamente comprometidos com o seu desenvolvimento e não se envolvem em política partidária, e são perseguidos somente devido ao ódio religioso e por causa do seu ponto de vista progressista em relação aos direitos da mulher, educação e livre busca da verdade.
Existem 300.000 bahá'ís no Irã. Ainda assim eles são deliberadamente omitidos da lista das três minorias religiosas que são reconhecidas pela Constituição, e são classificados como "infiéis não protegidos".
O tempo passou, as circunstâncias mudaram. Não sou mais uma adolescente. Agora vivo na Índia. No entanto, a realidade brutal ainda é a mesma: o meu primo ainda está em risco nas mãos das autoridades da República Islâmica somente por causa de sua crença religiosa - uma religião cuja meta principal é a de promover a paz e harmonia mundial, e enfatizar a subjacente unidade das tradições espirituais do mundo!
À medida que tento internalizar as noticias sobre a detenção de Aziz, estou surpresa com meus próprios sentimentos. Estou preocupada e triste, mas ao mesmo tempo não posso encontrar no meu coração nenhum traço de ódio ou vontade de vingança contra aqueles que sistemáticamente vêm perseguindo minha família e todos os outros membros da comunidade bahá'í no Irã.
Por quê me sinto dessa forma?
Talvez porque me foi ensinado desde quando eu era criança que "Todas as religiões são uma" e que "a terra é um só país e a humanidade os seus cidadãos."
Talvez devido à coragem dos parentes próximos de Aziz que em vez de estarem chorando desesperados nos confortam pelo telefone.
Talvez, ainda mais, por causa do próprio Aziz.
Aziz, que não deixou o Irã porque sentia que tinha uma responsabilidade para com outros membros da comunidade bahá'í que, à diferença de Aziz, não tinham parentes como ele para ajudá-los a recomeçar suas vidas no exterior. Porque sentia um senso de responsabilidade pelo seu país, que ele amava, e o seu povo, a quem ele desejava servir.
Aziz, que deveria passar os feriados de fim de ano conosco em Nova Déli, mas cujo passaporte foi confiscado no aeroporto de Teerã e que agora está preso na triste e notória prisão de Evin, onde o seu pai foi enforcado há 16 anos atrás.
Aziz, que compartilha o destino com outros quatro bahá'ís, presos em Teerã no mesmo dia, e, entre outros, com sete administradores da comunidade iraniana bahá'í, que foram presos em maio de 2008.
Apesar de tudo permaneço otimista. Ainda acredito que as vozes das pessoas ao redor do mundo e os protestos levantados pela comunidade internacional contra a perseguição sistemática dos bahá'ís, pode mudar o curso da história. Também acredito firmemente que as vozes na Índia podem exercer uma influência poderosa. Chamo a essas vozes para que se expressem abertamente e com entusiasmo.
A escritora trabalha com uma ONG de direitos humanos em Nova Déli.
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