Os bahá'ís são uma comunidade religiosa presente em mais de 180 países espalhados por todo o mundo. Mas quais são as características principais desta religião? Como se dá sua atuação no âmbito das comunidades locais em que estão inseridos? Porque eles são tão intensamente perseguidos em países como o Irã e o Egito? Estas são algumas das perguntas que serão respondidas ao longo das próximas semanas.
Nesta primeira edição, daremos mais informações sobre a perseguição que ocorre no Irã - país em que nasceu a Fé Bahá'í. Confiram abaixo:
A PERSEGUIÇÃO AOS BAHÁ´ÍS NO IRÃ
Sofrendo por seu comprometimento com uma visão internacional, os bahá'ís demonstram a coragem de suas convicções.
Em toda a história da Fé, os bahá'ís do Irã têm sido vítimas de perseguição. Em meados de 1800, cerca de vinte mil seguidores foram mortos pelas autoridades ou por turbas enfurecidas que viam o nascente movimento religioso como uma heresia ao Islã.
No século vinte, periódicas ondas de violência foram lançadas contra os bahá'ís no Irã, e o governo freqüentemente usava os bahá'ís como bode expiatórios. Em 1933, por exemplo, baniram a literatura bahá'í. Os casamentos bahá'ís não eram reconhecidos e os bahá'ís que fossem apanhados em atividades públicas de sua Fé eram degradados ou executados. Em 1955, o governo supervisionou a demolição a picaretas do centro nacional bahá'í em Teerã.
Os bahá'ís sabem que este tipo de perseguição é uma manifestação da incompreensão e do temor, e que muitas vezes ocorrem quando uma nova religião emerge da fonte de uma ortodoxia já bem estabelecida. Tal padrão tem se repetido através dos tempos; na verdade, virtualmente todas as grandes religiões mundiais enfrentaram intensas perseguições no início de suas histórias.
Em 1979, com o estabelecimento da República Islâmica do Irã, as perseguições tomaram um novo rumo, tornando-se uma diretriz oficial do novo governo, colocada em ação de forma sistemática e contínua. Desde aquele ano, mais de 200 bahá'ís foram executados ou assassinados, centenas aprisionados e dezenas de milhares privados de seus empregos, aposentadoria, comércio e oportunidades educacionais. Toda a estrutura administrativa bahá'í nacional foi banida pelo governo, e locais sagrados de sua religião, santuários e até cemitérios foram confiscados e parcial ou totalmente destruídos.
Os 350 mil membros da comunidade bahá'í iraniana formam o maior grupo religioso minoritário no país, e a perseguição que lhes é imposta deve-se exclusivamente ao fato de seguirem uma religião que não é a oficial e que foi acusada de herética, vítimas de um cego preconceito e de um ódio religioso instigado pelo clero e pelo próprio governo. Os fundamentalistas muçulmanos no Irã e em outras partes do mundo há muito consideram a Fé Bahá'í como uma ameaça ao Islã, acusando os bahá´ís de hereges e apóstatas.
A posição progressista da Fé sobre os direitos femininos, a independente pesquisa da verdade e a educação compulsória e aberta a todos, particularmente irritou os clérigos muçulmanos. Em junho de 1983, por exemplo, as autoridades iranianas prenderam dez mulheres e jovens bahá'ís. A acusação contra elas: dar aulas a crianças sobre a Fé Bahá'í -- o equivalente a aulas dominicais no Ocidente.
Impuseram às prisioneiras intensas pressões e castigos, físicos e mentais, num esforço para faze-las renegar sua Fé - uma opção normalmente forçada a prisioneiros bahá'ís. No entanto, numa demonstração de firmeza e lealdade à Fé que professavam, negaram-se a renegá-la e como resultado foram todas executadas por enforcamento.
Têm sido muito amplas e de inúmeras fontes as demonstrações de protesto internacional contra as perseguições aos bahá'ís no Irã, tanto de governos e instituições da sociedade civil como da mídia. Milhares de artigos em jornais sobre as perseguições têm sido publicados em várias partes do mundo. Proeminentes organizações internacionais, incluindo o Parlamento Europeu e diversas legislaturas nacionais têm aprovado resoluções condenando ou expressando séria preocupação com relação aos direitos humanos dos bahá'ís no Irã. Mais importante ainda, a Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, bem como a própria Assembléia Geral, aprovaram numerosas resoluções externando sua preocupação quanto à questão dos direitos humanos no Irã. Virtualmente, todas elas enfatizaram o caso da comunidade bahá'í iraniana.
No final da década de 1980, diante de intensa pressão internacional, o governo iraniano reduziu o nível de execuções e libertou muitos bahá´ís mantidos em prisão. No início dos anos de 1990, porém, surgiu clara evidência de que o governo não havia desistido de sua intenção de destruir a comunidade bahá´í. Um memorando secreto do governo veio à luz em 1993, que divulgava o estabelecimento de uma diretriz coordenada relacionada à “questão bahá´í”. Redigida pelo Supremo Conselho Cultural Revolucionário, assinada por ´Alí Khamenei, o líder da República Islâmica do Irã, o documento afirma inequivocamente que o “progresso e o desenvolvimento” da comunidade bahá´í “devem ser bloqueados.”
Um exemplo desta campanha sutil de bloquear o desenvolvimento da comunidade bahá´í pode ser vista no esforço sistemático para impedir os bahá´ís de educarem seus jovens. Impedidos de acesso às universidades públicas, a comunidade bahá´í do Irã, estabeleceu em 1987 sua própria instituição educacional de nível superior – o Instituto Bahá´í de Educação Superior (IBES). Em um tempo, o Instituto teve mais de 150 membros em seu corpo docente, oferecendo cerca de 200 diferentes cursos, todos no conceito de “universidade aberta”, que provia um educação de nível universitário para mais de 900 jovens bahá´ís em todo o país.
Em uma série de incursões policiais no outono de 1998, agentes do governo prenderam cerca de 32 professores do IBES, invadiram cerca de 500 residências particulares e confiscaram livros, documentos, equipamentos de computação e mobílias, todas com a finalidade de fechar o Instituto.
Esse padrão de detenções arbitrárias, prisões, confisco de propriedades e as negativas ao acesso à educação e outros direitos, continuou com a entrada no novo milênio sem qualquer indicação de parte do governo de que iria acabar com seus esforços no sentido de erradicar a comunidade bahá´í como um elemento viável da sociedade iraniana.
E a partir dos últimos meses de 2004 os bahá'ís no Irã continuaram com seus direitos fundamentais negados, incluindo o direito de praticar livremente sua religião. A emancipação total desta pacífica comunidade, obediente a todas as leis do país e que tem profundo respeito pelo Islã e por seu profeta, Muhammad, permanecem como uma das maiores preocupações dos bahá'ís no mundo inteiro.
Um comentário:
O artigo recente da Associated Press:
Além da Britannica, há a Encyclopedia Iranica
Postar um comentário