Teerã escapa de condenação em votação na ONU. Em meio a uma das crises políticas mais sérias dos últimos anos envolvendo o Irã, o Brasil decidiu ontem na Organização das Nações Unidas (ONU) abster-se em uma votação secreta sobre as violações dos direitos humanos pelo governo de Teerã.
29 de março de 2007 - Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
Parte da vitória iraniana deveu-se ao voto de Cuba, Rússia e de alguns países africanos e asiáticos pelo arquivamento do processo. Os países do Ocidente, em sua grande maioria, votaram pela continuação das investigações, entre eles a Argentina e outros latino-americanos.
Mas o Irã acabou favorecido pelas abstenções de países como Brasil, Equador, Japão e Coréia do Sul. Diplomatas estrangeiros que estiveram dentro da sala de reuniões revelaram que o Brasil não se deu o trabalho sequer de explicar sua abstenção.
Em Brasília, a versão era de que a posição foi adotada porque um grupo técnico que já avaliara as alegações contra o Irã concluiu que não haveria motivo para que as investigações prosseguissem.
O grupo, segundo organizações não-governamentais, é composto por cinco países, dos quais três são considerados “simpáticos” a Teerã. O governo brasileiro admitiu ainda que decisão pela abstenção foi tomada diante do crescente isolamento do Irã no cenário internacional.
O Conselho de Segurança da ONU já ampliou as sanções e a crise pelo dossiê nuclear iraniano está em um momento delicado diante da captura de 15 soldados britânicos que, segundo Teerã, teriam invadido as águas iranianas. O mecanismo da ONU para avaliar secretamente os países foi criado nos anos 70 e serviu basicamente para que a comunidade internacional conseguisse tratar das violações aos direitos humanos nas ditaduras na América do Sul, principalmente o Chile de Augusto Pinochet.
(O Estado de SP, 27/3)