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Por Anderson
Diniz Galvão
As
formas de organização das estruturas da sociedade têm sido objeto
de estudos ao longo do tempo. Trata-se de uma necessidade intrínseca
de prospectarmos para onde estamos caminhando, descortinando diversos
aspectos das relações humanas. Na sociedade moderna, costuma-se
pensar a organização da sociedade a partir de núcleos como a
Família, a Comunidade e o Estado. Essa classificação permite uma
leitura mais ampla da realidade, porém, entre essas estruturas
existem outros níveis de organização e processos que corroboram
com as estruturas maiores e precisam estar em coesão.
Dentre
essas estruturas da sociedade, maior atenção precisa ser dada a
comunidade, onde vários núcleos podem ser formados, dentre eles o
de vizinhança. No entanto, numa sociedade cada vez mais globalizada,
o conceito e o sentido de vizinhança tem se esvaziado. As relações
têm se tornado impessoais e superficiais à medida que os interesses
pessoais sobressaem-se aos coletivos, gerando uma crise de confiança
generalizada. Hoje em dia temos visto nossos vizinhos como
estranhos, apesar da proximidade, a distância tem imperado.
A
relação entre vizinhos é uma constante diária, pois não se trata
apenas daqueles que moram ao nosso lado, mas também temos vizinhos
no trabalho, no transporte coletivo, nas filas, ou seja, são
relações de convívio indispensáveis a uma vida comunitária. Na
maioria dos casos, não escolhemos nossos vizinhos, e esse fato cria
uma relação muito singular e delicada entre os membros de uma
vizinhança. Podemos dizer que a relação entre vizinhos existe
desde quando existe vida na terra, mas nunca foi tão complexa quanto
nos dias atuais. Isso porque estamos nos referindo a mais de 7
bilhões de seres humanos compartilhando de um mesmo planeta, vivendo
aglomerados em espaços cada vez menores. Mas como fazer com que uma
convivência forçosa, se torne harmoniosa?
Mesmo
numa sociedade extremamente individualista, é necessário pensar
coletivamente e compreender as benesses da vida em vizinhança, o que
implica em nos darmos conta da necessária colaboração e respeito
que precisa moldar a relação entre vizinhos. À medida que deixamos
os preconceitos de lado e nos esforçamos para conhecer nossos
vizinhos através de conversas significativas, uma amizade genuína
pode surgir. Trata-se de respeitarmos e acolhermos as diferenças a
fim de um propósito comum, ou seja, uma convivência feliz e
harmoniosa, onde exista unidade na diversidade. Assim ir além do
estereotipo de vizinhos que emprestam açúcar, para algo mais
profundo, como fazer orações juntos quando alguém estiver doente,
ou simplesmente para agradecer as realizações de um ano de fartura,
a exemplo de como faziam nossos antepassados.
Pode
ser a partir de vizinhanças destacadas por uma vida comunitária
vibrante, onde seus membros se esforçam para servir uns aos outros,
onde existam apoio e aprendizagem mútuos que esteja o núcleo da
construção de comunidades saudáveis e prósperas. Não se pode
desprezar o poder que os coletivos, como o de uma vizinhança têm de
transformar a realidade. Talvez seja a partir do exemplo das relações
entre vizinhos que várias nações, raças e religiões poderão
reconciliar suas diferenças, pois afinal também são vizinhos de
certo modo. Parece que ainda estamos no estágio de aprendermos a
conviver com as diferenças, para em seguida passarmos a amar essas
diferenças e por fim vivermos em paz e construir um mundo melhor.
Então, porque não começarmos com os nossos vizinhos? E não nos
esqueçamos de uma importante premissa “seja você o vizinho que
gostaria de ter”.
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Anderson
Diniz Galvão é pedagogo, professor, pesquisador e membro da
Comunidade Bahá'í do Brasil
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