Participantes da Roda de conversa |
A discussão sobre como as tradições religiosas refletem e enfrentam o problema da violência física e psicológica, que aflige centenas de mulheres brasileiras, contou com a participação da representante da Comunidade Bahá’í do Brasil, Daniella Hiche, a teóloga e pastora metodista, Lídia Maria de Lima, a militante da Marcha Mundial das Mulheres, Sarah Roure, a reverenda anglicana, Carmem Kawano, e a pastora evangélica, Ester Pires Brancia.
O encontro oportunizou a troca de experiências das diferentes comunidades religiosas e o aprendizado coletivo para superar os desafios mais comuns no enfrentamento da violência contra a mulher tais como: hierarquias, tradições sociais, concepções sobre a realidade da mulher, além da relação entre intolerância religiosa e violência contra mulheres e meninas. Uma das conclusões mais importantes foi reconhecer o papel da religião neste processo e como as comunidades religiosas podem e devem aprimorar sua interface com outras instâncias, públicas e privadas. O grupo reconheceu, por exemplo, que as comunidades religiosas devem oferecer todo o apoio para que, em caso de violência, a integrante da comunidade que tenha buscado ajuda ou orientação religiosa, denuncie em uma delegacia para mulheres.
O grupo também tratou do avanço do conservadorismo religioso como fator agravante para o aumento do número de situações de violência contra a mulher. Concluiu-se que as comunidades religiosas não devem ser tolerantes com este tipo de violência, e que devem orientar seus membros a utilizarem o Disque 180 (específico para denúncias de violência contra as mulheres) e o Disque 100 (que tem enfoque geral em violações de direitos humanos, como a intolerância religiosa), para denunciar os abusos. Essas práticas auxiliam na formulação e aperfeiçoamento de políticas públicas que visam promover os direitos das mulheres.
O coletivo verificou que a estrutura social vigente perpetua as diferentes formas de violência contra as mulheres. A representante da Marcha Marcha Mundial das Mulheres destacou a importância de se superar a "coisificação" das mulheres e a utilização do discurso de sacralização da família que muitas vezes impede interferências na família. “É preciso reconhecer que há comportamentos que não são aceitáveis e o Estado deve intervir sim”, defendeu Sarah.
O grupo notou também que no discurso há uma sutil responsabilização da mulher em protagonizar a promoção de seus direitos e o enfrentamento da violência, seja ela física ou psicológica. “Precisamos superar a falsa percepção de que é função da mulher lutar pelos seus direitos. A mulher tem sim este papel, mas há de se reconhecer que esta é uma responsabilidade coletiva”, disse a representante bahá’í, referindo-se ao Conceito de Guardiania. “A igualdade de gênero não é importante somente para elevar a condição da mulher; ela é necessária para a prosperidade do coletivo humano”, declarou Daniella.
Para a assessora do programa Saúde e Direitos de KOINONIA, Ester Lisboa, o objetivo da Roda de Conversa foi provocar um repensar das práticas realizadas nas comunidades religiosas. “O interessante era percebermos se as comunidades identificavam situações de violência e posteriormente, qual o encaminhamento e postura da liderança religiosa frente ao problema”, afirmou.
“Quando se trata de religião, entendemos que o diálogo inter-religioso contribui para identificarmos o problema, buscarmos soluções e amenizarmos a violência que também se expressa a partir da religião. Essas histórias possibilitaram que todas e todos os participantes se confrontassem com sua realidade”, concluiu Ester.
Saiba mais
A KOINONIA é uma entidade ecumênica de serviço, composta por pessoas de diferentes tradições religiosas, reunidas em associação civil sem fins lucrativos. A campanha “O amor lança fora todo o medo” foi criada como resposta a todas as formas de intolerância e pretende, também, promover a defesa dos direitos humanos, a redução dos índices de discriminação, a equidade de gênero, a adesão ao tratamento ambulatorial e ao teste de Aids. Para saber mais, acesse www.koinonia.org.br.
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