por Nadia Moghbelpour*
(Coluna
do convidado - 31 de dezembro de 2012)
Nas
últimas duas semanas, temos testemunhado a mais horripilante forma
de violência contra mulheres. A estudante de paramedicina de 23
anos, brutalmente atacada em Deli, sucumbiu aos seus ferimentos.
Oramos para que sua alma descanse em paz. O protesto pacífico da
juventude e de organizações da sociedade civil em Deli e outras
cidades conduziram a um diálogo com representantes do governo pela
tomada de medidas que tornem a cidade um lugar seguro para mulheres,
por justiça imediata e pela promulgação de leis mais rigorosas que
ajudem a deter a cultura de impunidade e violência contra mulheres.
As
mulheres do nosso país estão enredadas numa cultura que permite e
sustenta a violência contra elas. Tal violência é, em última
análise, um ato de agressão contra a sociedade como um todo. A
erradicação da violência requer não somente mudanças na lei e na
política, mas mudanças mais fundamentais na cultura, atitudes e
crenças.
Vistos
num contexto mais amplo, violência e discriminação contra mulheres
e meninas é um dos sintomas de uma ordem social caracterizada por
conflito, injustiça e insegurança. Suas estruturas e processos
demonstram sua incapacidade de servir ao bem comum. Enquanto buscamos
erradicar a violência contra as mulheres, não devemos perder de
vista o objetivo mais amplo e de longo prazo, isto é, a criação de
condições nos quais mulheres e homens possam trabalhar ombro a
ombro na construção de uma ordem social mais justa e equitativa.
As
concepções vigentes de poder e capacitação precisam ser
redefinidas. A ideia dominante de poder como “poder sobre” deve
ser substituída pelo conceito de “poder para” – poder como
capacidade do indivíduo ou da coletividade.
Medidas
preventivas para a erradicação da violência são tão importantes
e duradouras quanto as punitivas. Nunca é demais enfatizar o papel
dos homens na prevenção. É animador ver que, no decorrer dos
últimos dias, homens tenham se expressado vigorosamente contra a
violência e exploração das mulheres. Mas, eles também devem
envidar um esforço consciente para entender plenamente o princípio
da igualdade entre homens e mulheres e sua expressão nas vidas
privada e pública. Muitas vezes é em casa que meninos e meninas
aprendem sobre a natureza do poder e como ele é demonstrado.
Expressões distorcidas de poder e autoridade promovem nas crianças
atitudes e hábitos que são levados para o local de trabalho, para a
comunidade e para a vida pública.
O
estado deve focar tanto em reformas legais como em mecanismos
institucionais melhorados e na prevenção da violência. A prevenção
deve começar pela identificação e tratamento das causas
subjacentes da violência, ao invés de seus sintomas. Programas
preventivos e transformação social devem andar juntos.
Uma
abordagem da transformação social é através da educação e
treinamento das crianças e jovens de modo a cultivar neles um senso
de dignidade e de responsabilidade pelo bem-estar dos membros de sua
família e da comunidade em geral. Há inúmeros elementos nos
esforços educacionais que apoiam tal transformação.
Ao
mesmo tempo em que se deve dar ênfase ao acesso das meninas à
educação de qualidade, devida atenção deve ser dada à educação
dos meninos, especialmente com relação a questões de igualdade de
gênero.
Não
se pode permitir que qualquer costume, tradição ou interpretação
religiosa que sancione ou promova qualquer forma de violência contra
as mulheres possa estar acima da obrigação de erradicar a violência
contra elas. A lamentável prática de se esconder atrás de
tradições culturais e religiosas que permitem violência contra a
mulher perpetuam um clima de impunidade legal e moral. A
responsabilidade do estado de proteger mulheres e meninas da
violência deve ter primazia sobre quaisquer costumes desse tipo.
Práticas e doutrinas que toleram ou promovem violência contra
mulheres e meninas precisam ser eliminadas.
*Nadia Moghbelpour é consultora educacional e diretora acadêmica da Blossoms School em Bhubaneswar, Odisha, e membro da comunidade bahá'í da Índia.
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