Cada
povo do mundo tem uma contribuição a oferecer para o progresso da
civilização humana. Seu destino é fazer florescer capacidades que
possam ser canalizadas para o desenvolvimento espiritual e material
da humanidade. Este desenvolvimento, por sua vez, contribui para o
bem-estar do todo.
Com
isso em mente, indígenas de diversas etnias da América Latina
compartilharam experiências e consultaram sobre seu papel na
promoção da
unidade e prosperidade dos povos da Terra durante a Conferência
Indígena do Panamá, realizada entre os dias 21 e 26 de março. O
evento ocorreu na sede do Instituto Rahmat’u’llah Muhajir e no
Centro Cultural Guaymi, do povo Ngobe
Bukle.
“A
experiência de viajar ao exterior e conhecer outras culturas fez com
que eu ganhasse uma visão mais abrangente do serviço que podemos
prestar ao mundo”, revela o índio kiriri Carmélio de Jesus. “Pude
ver o serviço que bahá’ís indígenas fazem em lugares muito
distantes – todos trabalham muito para realizar aquilo que
acreditam”, observa o indígena da Bahia. Ele ainda afirma que
deseja se dedicar mais ao serviço comunitário e a fazer seu povo
avançar. “Vou estimular cada amigo a participar”, disse.
Após
participar da Conferência, Ricardo dos Santos, também kiriri,
vislumbrou a dimensão das atividades que acontecem em seu próprio
povoado. “Fiquei até assustado
com o desafio que temos pela frente, mas sei que o serviço guiará
as nossas vidas e o futuro do mundo”, constata o índio. “Nunca
pensei em fazer parte de algo assim, que envolvesse o mundo todo”,
confessa Ricardo, que já finalizou o primeiro e o terceiro livro da
sequência do Instituto Ruhí, respectivamente sobre Reflexões sobre
a Vida do Espírito e Ensinando Aulas para Crianças.
Por
meio de estudos e reflexões em grupo, cerca de 1.200 indígenas de
14 países da região consultaram sobre como colocar em ação os
ensinamentos bahá’ís de unidade e paz. Os participantes
assistiram a palestras apresentadas por membros de instituições
bahá’ís que trouxeram inspiração e sugestões práticas
para tornar realidade a contribuição indígena ao processo de
construção de uma nova sociedade mundial. Além disso, tiveram a
oportunidade de conhecer as vizinhanças locais do agrupamento
anfitrião a fim de observar na prática como as atividades bahá’ís
contribuem para
uma vida comunitária vibrante.
“Após
uma breve viagem de carro subindo a montanha, caminhamos por quatro
horas, atravessamos rios na escuridão, até chegar à comunidade
Plano do Rio Russo”, conta Flávio Cardoso, membro do Conselho do
Nordeste e integrante
da comunidade bahá’í de Maceió (AL). Ele fez o percurso juntamente
com índios do Brasil, Colômbia, Costa Rica, Venezuela, Argentina,
Chile, Guatemala e Peru. “Cada um de nós voltou para seu
agrupamento com mais clareza de seu papel na sociedade e com
ferramentas práticas para impulsionar ações que favoreçam o
desenvolvimento comunitário e contribuam
com a missão de promover a unidade do gênero humano”, acredita
Flávio.
O Dr.
Farzam Arbab, membro da Casa Universal de Justiça, foi um dos
palestrantes da Conferência. Em sua fala, ele apontou dois elementos
da cultura indígena que merecem destaque como contribuições para o
progresso da civilização humana: sua relação com a natureza,
demonstrando como podemos
avançar na agricultura e na economia sem danificar o meio
ambiente; e sua capacidade de consultar e chegar a um consenso.
“Estas são características que o resto do mundo ainda precisa
desenvolver”, afirmou ele.
“À
medida em que agimos, estamos nutrindo nossas capacidades e gerando o
conhecimento necessário para desenvolver nossas comunidades”,
disse o Dr. Arbab. “Não há dúvida que os povos indígenas podem
atingir seu destino e contribuir
para a construção de uma nova civilização espiritual e
materialmente próspera”, assegurou ele.
Os
escritos bahá’ís sobre o desenvolvimento da humanidade deixam
claro o potencial latente de contribuição que os povos indígenas
tem a oferecer. ”Devemos dar a máxima importância aos índios, os
habitantes nativos da América, pois se estes índios se educarem e
forem guiados corretamente pelos Ensinamentos Divinos eles se
tornarão tão esclarecidos que a Terra inteira será iluminada”,
declarou ‘Abdu’l-Bahá.
Histórico:
Bahá´ís no Panamá
Há 30
anos, os índios Guaymi decidiram protagonizar a transformação de
sua realidade por meio do engajamento em atividades promovidas pelo
Instituto Ruhí de Capacitação. Presente em mais de 180 países e
territórios ao redor do mundo,
o Instituto é responsável por um processo educacional voltado para
o desenvolvimento espiritual e intelectual dos participantes e das
comunidades nas quais estão inseridos.
Estima-se
que cerca de 300 atividades derivadas do processo do Instituto sejam
realizadas atualmente pelos povos originários do Panamá na região
em que foi realizada a Conferência. Dos 2.300 bahá’ís de
Nedrini, 600 já concluíram o primeiro livro do Instituto,
intitulado “Reflexões sobre a Vida do Espírito”; outros 120
estão aptos a serem facilitadores de atividades como aulas de
educação espiritual para crianças, grupos de empoderamento de
pré-jovens e círculos de estudo para o desenvolvimento
individual
e coletivo.
“Os
indígenas criaram, inclusive, uma rádio que funciona como canal de
informação sobre as atividades, que são abertas ao público em
geral e oferecidas gratuitamente”, conta Flávio.
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