Impedida de participar de atividades sociais em seu país de origem, seguidora da Fé Bahá’í se dedica ao desenvolvimento socioeconômico de comunidades carentes na Amazônia brasileira
Cerimônia de homenagem aos 25 anos da ADCAM, realizada em 22/10/2010.
Ferial está à extrema direita.
Há 25 anos a iraniana Ferial Sami está à frente de um projeto social com comunidades carentes no estado do Amazonas que apoia desde crianças até idosos. Ela chegou ao Brasil em 1979 e morou em algumas outras cidades antes de se estabelecer no Norte do País, onde ajudou a fundar a Associação para o Desenvolvimento Coesivo da Amazônia (ADCAM) -- instituição que hoje atende mais de cinco mil pessoas diariamente.
Recentemente homenageada com o título de “Cidadã Amazonense” pelo trabalho que desenvolve na região, Ferial fala com tristeza dos amigos e parentes que foram presos por realizar ações similares na cidade de Shiraz, no sudoeste do Irã. Ela fala sobre a gratidão que sente pelo Brasil por poder contribuir com a sociedade local, algo que foi proibida de fazer em seu país, motivo pelo qual saiu de lá.
Proibida de servir à comunidade em seu país
Durante o governo do Xá, antes da Revolução Islâmica de 1979, Ferial foi proibida de continuar seu trabalho de atendimento a crianças carentes em um orfanato pelo fato de ser bahá'í -- religião que sofre diversas formas de perseguição no Irã.
“Sempre gostei de trabalhar com crianças. Visitei um orfanato onde as crianças são muito maltratadas e perguntei se poderia levá-las para passeios. No início eles concordaram, até que um dia não me permitiram mais entrar, afirmando que os bahá'ís estavam proibidos de realizar esse tipo de serviço”, conta ela.
Ela explica que após a Revolução, que derrubou os antigos monarcas persas, ficou ainda mais difícil para os seguidores da Fé Bahá’í desenvolver qualquer atividade. Os familiares que ficaram no Irã até hoje sofrem com a perseguição e as restrições a que estão submetidos.
“Meu sobrinho foi preso, meus cunhados foram presos várias vezes simplesmente porque estavam dando atendimento a pessoas carentes em Shiraz”, relata Ferial. Eles eram parte de um grupo de jovens bahá’ís e muçulmanos que ofereciam aulas de reforço para crianças de bairros pobres da região, presos em 2006 sob acusação de exercerem atividades ilegais, apesar de estarem de posse de uma autorização oficial das autoridades locais. Os jovens muçulmanos foram liberados em seguida.
Presos por oferecer reforço escolar a crianças carentes
Três dos jovens bahá’ís -- Sasan Taqva, Raha Sabet e Haleh Rouhi -- permaneceram presos em 2008 em instalações do Ministério da Informação da cidade durante três anos em condições extremamente precárias e insalubres até serem libertados em dezembro de 2010 sob perdão do Líder Supremo. Os demais, inclusive os familiares de Ferial, foram condenados a assistir aulas de propaganda islâmica nas quais são submetidos a sessões de difamação de suas crenças religiosas no intuito de renegarem sua fé.
“Eles vivem agora em regime de liberdade assistida e são impedidos de sair do país”, explica Ferial. “A cada 15 dias, são obrigados a comparecerem a palestras em que tentam dissuadi-los de serem bahá'ís”.
Lideranças são condenadas a 20 anos de prisão por servir à comunidade
Atualmente há 379 bahá'ís presos no Irã e outras centenas aguardam julgamento, todos por seu envolvimento em ações desenvolvidas pela comunidade bahá’í. Entre os prisioneiros, um caso em especial vem preocupando a comunidade internacional: a confirmação recebida oralmente pelas sete lideranças que cuidavam das necessidades básicas da comunidade bahá’í iraniana, presas desde 2008, de que sua pena foi novamente revertida para 20 anos de prisão.
Em 7 de agosto de 2010 a justiça iraniana determinou a sentença com base em acusações totalmente infundadas. Após apelação dos advogados de defesa, três das acusações (engajamento em atos de espionagem, colaboração com o Estado de Israel e fornecimento de documentos confidenciais a indivíduos estrangeiros com a intenção de minar a segurança do Estado) foram revogadas por falta de provas. A pena foi então reduzida para 10 anos, baseando-se exclusivamente na crença religiosa dos sete e na suposta ilegalidade do serviço que prestavam a seus correligionários. O veredito, contudo, nunca foi concedido por escrito.
Em 16 de março de 2011 os prisioneiros receberam a informação de que a apelação fora desconsiderada e que terão de passar 20 anos presos sem que tenham cometido qualquer crime ou violação -- o que para alguns deles, dada sua idade avançada, equivale à prisão perpétua. Os advogados até agora não puderam ter acesso à decisão judicial que reverteu a pena devido ao feriado de Ano Novo (Naw Ruz, celebrado em 21 de março), que se estende até a próxima semana, e portanto ainda não conseguiram recorrer.
Ferial sente uma tristeza profunda com essa situação, não somente pelo sofrimento e sacrifício dessas pessoas, mas pelo fato de serem impedidos de contribuir com o desenvolvimento da sociedade iraniana simplesmente pelo fato de serem bahá’ís.
“Eu dei uma entrevista para uma rádio iraniana falando sobre meu trabalho aqui [no Brasil] e depois recebi ligações de irmãos muçulmanos perguntando por que eu não estava fazendo esse trabalho tão lindo no Irã, que é o meu país. Eu disse que se fosse permitido eu faria com muito prazer, assim como muitos bahá'ís também gostariam”.
ADCAM
A Associação para o Desenvolvimento Coesivo da Amazônia – ADCAM é uma instituição não governamental que há 25 anos realiza atividades sócio-educativas no Estado do Amazonas. Iniciou suas atividades com o orfanato Lar Linda Tanure, criado para abrigar crianças abandonadas e que sofriam algum tipo de mau trato. Hoje a ADCAM atua em cinco programas: o Núcleo de Desenvolvimento Familiar, que realiza atividades sócio-educativas com crianças, adolescentes e idosos; a Escola Vocacional Masrour, que oferece desde do Ensino Infantil ao Ensino Médio; a Faculdade Tahirih, que oferece ensino superior nas áreas de Administração e Pedagogia; o Instituto de Tecnologia Masrour, que se dedica à formação e qualificação profissional de jovens e adultos; e o Instituto Politécnico Rural da Amazônia Djalal Eghrari, que oferece à comunidade rural, ribeirinha e indígena do município de Iranduba a oportunidade de acesso à educação formal e a cursos técnicos rurais, promovendo a permanência do homem no campo. Reconhecida como uma instituição de Utilidade Pública Federal, a ADCAM também atua junto a organizações que defendem os direitos humanos e protegem os interesses de crianças, adolescentes, jovens, adultos, terceira idade e mulheres.
Para saber mais sobre a ADCAM, acesse www.adcam.org.br
Para informações sobre outros projetos desenvolvidos pelos bahá’ís no Brasil, acesse www.bahai.org.br
Cerimônia de homenagem aos 25 anos da ADCAM, realizada em 22/10/2010.
Ferial está à extrema direita.
Há 25 anos a iraniana Ferial Sami está à frente de um projeto social com comunidades carentes no estado do Amazonas que apoia desde crianças até idosos. Ela chegou ao Brasil em 1979 e morou em algumas outras cidades antes de se estabelecer no Norte do País, onde ajudou a fundar a Associação para o Desenvolvimento Coesivo da Amazônia (ADCAM) -- instituição que hoje atende mais de cinco mil pessoas diariamente.
Recentemente homenageada com o título de “Cidadã Amazonense” pelo trabalho que desenvolve na região, Ferial fala com tristeza dos amigos e parentes que foram presos por realizar ações similares na cidade de Shiraz, no sudoeste do Irã. Ela fala sobre a gratidão que sente pelo Brasil por poder contribuir com a sociedade local, algo que foi proibida de fazer em seu país, motivo pelo qual saiu de lá.
Proibida de servir à comunidade em seu país
Durante o governo do Xá, antes da Revolução Islâmica de 1979, Ferial foi proibida de continuar seu trabalho de atendimento a crianças carentes em um orfanato pelo fato de ser bahá'í -- religião que sofre diversas formas de perseguição no Irã.
“Sempre gostei de trabalhar com crianças. Visitei um orfanato onde as crianças são muito maltratadas e perguntei se poderia levá-las para passeios. No início eles concordaram, até que um dia não me permitiram mais entrar, afirmando que os bahá'ís estavam proibidos de realizar esse tipo de serviço”, conta ela.
Ela explica que após a Revolução, que derrubou os antigos monarcas persas, ficou ainda mais difícil para os seguidores da Fé Bahá’í desenvolver qualquer atividade. Os familiares que ficaram no Irã até hoje sofrem com a perseguição e as restrições a que estão submetidos.
“Meu sobrinho foi preso, meus cunhados foram presos várias vezes simplesmente porque estavam dando atendimento a pessoas carentes em Shiraz”, relata Ferial. Eles eram parte de um grupo de jovens bahá’ís e muçulmanos que ofereciam aulas de reforço para crianças de bairros pobres da região, presos em 2006 sob acusação de exercerem atividades ilegais, apesar de estarem de posse de uma autorização oficial das autoridades locais. Os jovens muçulmanos foram liberados em seguida.
Presos por oferecer reforço escolar a crianças carentes
Três dos jovens bahá’ís -- Sasan Taqva, Raha Sabet e Haleh Rouhi -- permaneceram presos em 2008 em instalações do Ministério da Informação da cidade durante três anos em condições extremamente precárias e insalubres até serem libertados em dezembro de 2010 sob perdão do Líder Supremo. Os demais, inclusive os familiares de Ferial, foram condenados a assistir aulas de propaganda islâmica nas quais são submetidos a sessões de difamação de suas crenças religiosas no intuito de renegarem sua fé.
“Eles vivem agora em regime de liberdade assistida e são impedidos de sair do país”, explica Ferial. “A cada 15 dias, são obrigados a comparecerem a palestras em que tentam dissuadi-los de serem bahá'ís”.
Lideranças são condenadas a 20 anos de prisão por servir à comunidade
Atualmente há 379 bahá'ís presos no Irã e outras centenas aguardam julgamento, todos por seu envolvimento em ações desenvolvidas pela comunidade bahá’í. Entre os prisioneiros, um caso em especial vem preocupando a comunidade internacional: a confirmação recebida oralmente pelas sete lideranças que cuidavam das necessidades básicas da comunidade bahá’í iraniana, presas desde 2008, de que sua pena foi novamente revertida para 20 anos de prisão.
Em 7 de agosto de 2010 a justiça iraniana determinou a sentença com base em acusações totalmente infundadas. Após apelação dos advogados de defesa, três das acusações (engajamento em atos de espionagem, colaboração com o Estado de Israel e fornecimento de documentos confidenciais a indivíduos estrangeiros com a intenção de minar a segurança do Estado) foram revogadas por falta de provas. A pena foi então reduzida para 10 anos, baseando-se exclusivamente na crença religiosa dos sete e na suposta ilegalidade do serviço que prestavam a seus correligionários. O veredito, contudo, nunca foi concedido por escrito.
Em 16 de março de 2011 os prisioneiros receberam a informação de que a apelação fora desconsiderada e que terão de passar 20 anos presos sem que tenham cometido qualquer crime ou violação -- o que para alguns deles, dada sua idade avançada, equivale à prisão perpétua. Os advogados até agora não puderam ter acesso à decisão judicial que reverteu a pena devido ao feriado de Ano Novo (Naw Ruz, celebrado em 21 de março), que se estende até a próxima semana, e portanto ainda não conseguiram recorrer.
Ferial sente uma tristeza profunda com essa situação, não somente pelo sofrimento e sacrifício dessas pessoas, mas pelo fato de serem impedidos de contribuir com o desenvolvimento da sociedade iraniana simplesmente pelo fato de serem bahá’ís.
“Eu dei uma entrevista para uma rádio iraniana falando sobre meu trabalho aqui [no Brasil] e depois recebi ligações de irmãos muçulmanos perguntando por que eu não estava fazendo esse trabalho tão lindo no Irã, que é o meu país. Eu disse que se fosse permitido eu faria com muito prazer, assim como muitos bahá'ís também gostariam”.
ADCAM
A Associação para o Desenvolvimento Coesivo da Amazônia – ADCAM é uma instituição não governamental que há 25 anos realiza atividades sócio-educativas no Estado do Amazonas. Iniciou suas atividades com o orfanato Lar Linda Tanure, criado para abrigar crianças abandonadas e que sofriam algum tipo de mau trato. Hoje a ADCAM atua em cinco programas: o Núcleo de Desenvolvimento Familiar, que realiza atividades sócio-educativas com crianças, adolescentes e idosos; a Escola Vocacional Masrour, que oferece desde do Ensino Infantil ao Ensino Médio; a Faculdade Tahirih, que oferece ensino superior nas áreas de Administração e Pedagogia; o Instituto de Tecnologia Masrour, que se dedica à formação e qualificação profissional de jovens e adultos; e o Instituto Politécnico Rural da Amazônia Djalal Eghrari, que oferece à comunidade rural, ribeirinha e indígena do município de Iranduba a oportunidade de acesso à educação formal e a cursos técnicos rurais, promovendo a permanência do homem no campo. Reconhecida como uma instituição de Utilidade Pública Federal, a ADCAM também atua junto a organizações que defendem os direitos humanos e protegem os interesses de crianças, adolescentes, jovens, adultos, terceira idade e mulheres.
Para saber mais sobre a ADCAM, acesse www.adcam.org.br
Para informações sobre outros projetos desenvolvidos pelos bahá’ís no Brasil, acesse www.bahai.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário