Após longos anos de serviço ao País, o capixaba Perly Cipriano é exonerado do cargo de Subsecretário Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos neste 10 de junho de 2010.
A Comunidade Bahá'í do Brasil teve a honra de poder compartilhar com este histórico militante vários momentos de luta pelos direitos humanos de todas e todos, em especial nas áreas de educação em direitos humanos e da diversidade religiosa.
Nossa sincera homenagem se dá ao compartilharmos o conteúdo de sua carta ao Ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, escrita logo após a exoneração.
Leia também a Carta de Solidariedade a Perly Cipriano, encaminhada por diversos companheiros de jornada em 15 de junho (disponível na página da DHNet)
Ministro Paulo de Tarso Vannuchi
Disponível também em DHNet na página http://www.dhnet.org.br/perly/motivos_perly.htm
Iniciei minha militância política em 1960. Completei 50 anos de atuação política consciente, mudei muito nestes tempos, sem mudar de lado.
Ainda na prisão, em 1979, juntamente com outros presos políticos, iniciamos a discussão para a criação do Partido dos Trabalhadores. Após alguns anos de vida no cárcere, que parecem mais longos quando se está no frescor da juventude, mergulhei de corpo e alma neste sonho, contribuindo, como tantos outros, na consolidação e na organização do PT no Espírito Santo e no Brasil. O engajamento político levou-me ao cumprimento de incontáveis tarefas partidárias: desde as mais singelas às mais difíceis, das viagens e reuniões intermináveis, mas sempre exultantes quando pela força dos argumentos se conseguia germinar em algum quadrante distante do estado ou do país a mensagem do novo e da esperança encarnados pelo PT.
O destino reservou-me nesta caminhada algumas missões inesquecíveis: da fundação do PT no Colégio Sion em São Paulo, do primeiro candidato da legenda ao governo do estado em 1982. De presidente do diretório estadual do PT em duas oportunidades e, mais recentemente, da participação na elaboração dos programas de governo de Lula em 2002 e 2006; além de ter participado de todos os Encontros e Congressos estaduais e nacionais do PT e ter sido homenageado juntamente com o deputado Cláudio Vereza no vigésimo aniversário do nosso Partido.
Concomitantemente à vida partidária, a convivência antagônica que me foram impostas à Repressão Militar, durante os anos de chumbo em nosso país, fez ascender em mim a paixão pelos Direitos Humanos, traduzida na convicção de que o respeito à dignidade da pessoa humana é a pedra de toque de toda edificação política e que não pode ser demovida no processo histórico que coletivamente, desde o início, ambicionamos promover.
O ativismo como militante de Direitos Humanos certamente proporcionou maior qualidade em minhas experiências parlamentares desde Vereador em Vitória e Deputado Estadual no Espírito Santo e atividades administrativas na prefeitura de Vitória na função de Chefe de Gabinete e no Governo do Estado as atribuições de Secretário de Estado da Justiça e Cidadania.
Com a vitória de Lula em 2002 fui empossado como Subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos na Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.
Em todos estes anos busquei de forma obstinada, com o auxílio prestimoso de colaboradores e servidores, amplificar o diálogo público com os mais diversos setores da sociedade civil, construindo pontes ao livre trânsito dos Direitos Humanos, a serem exercidos e multiplicados com fluidez, eficiência e intensidade, chegando até aos longínquos extremos do país, em especial, onde a presença do Estado ainda não se faz suficientemente institucionalizada e a cidadania clama por ser proclamada.
Seria inexeqüível esgotar em uma carta os grandes avanços conquistados no âmbito da Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos que, em parte, se fazem refletir em dezenas de premiações, títulos e condecorações, destacando o título de Cidadão Brasiliense, a Comenda Domingos Martins no ES, o título de Cidadão Natalense, entre outros. Tais honras demonstram o reconhecimento às ações e políticas públicas que, institucionalmente, coube-me cumprir.
Contudo, mesmo em um breve relato, ressalta-se a realização histórica de duas conferências nacionais do Idoso (em 2006 e 2009) e da primeira conferência nacional LGBT (2008), abrilhantadas pela participação do presidente da República e que, em razão dos resultados alcançados, reverberaram na comunidade internacional, inclusive nas Nações Unidas, realçando o papel de destaque do Brasil no continente Americano quanto às políticas nacionais de Direitos Humanos.
Neste período, novos atores sociais, alguns inclusive alijados do debate público sobre Direitos Humanos, a exemplo das comunidades Ciganas e Pomeranas, foram incorporados na agenda política da SDH.
Esferas representativas e autônomas da sociedade brasileira, como as Universidades e os diversos segmentos de manifestação religiosa, aprofundaram seus vínculos com os Direitos Humanos tornando-se parceiros freqüentes na elaboração e implementação do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e no aprofundamento do diálogo entre Religiões e Direitos Humanos.
Minha atuação na SDH é confirmativa de que, em Direitos Humanos, nada se avança sem a abrangência do diálogo que se faz indispensável em toda atividade política. O avanço nasce do comprometimento, e este só se fertiliza na confiabilidade das interlocuções que emerge de nossas vivências, sentimentos e da franqueza de nossos compromissos.
Diante dos resultados conquistados e do compromisso que tenho com os Direitos Humanos, com o PT e com a democratização do País, não se entende o pedido de afastamento do cargo que exerço. Essa conduta, no último ano do governo Lula e às vésperas das eleições de 2010, não é razoável, nem politicamente justificável.
Contudo, não pretendo discutir publicamente as motivações pessoais ou políticas do Ministro. Não quero explicitar divergências, tampouco apontar erros e equívocos. Com isto tento evitar desgastes para SEDH e principalmente ao Partido dos Trabalhadores. Restará, portanto ao Ministro, a minha exoneração.
Retornarei para o ES, meu Estado de origem, com olhares sempre para o futuro, enriquecidos pela experiência de uma vida intensa, com a serena tranqüilidade de que em meu exercício os critérios e valores orientadores de toda esta história, que não é só minha, foram rigorosamente preservados.
Abraçarei com humildade e determinação os novos desafios coletivos para fortalecer o PT e fazer avançar as conquistas do governo Lula bem como eleger a companheira Dilma Roussef, presidenta do Brasil.
Atenciosamente,
Perly Cipriano
Subsecretario Nacional de Promoção
e Defesa dos Direitos Humanos
10/6/2010
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