Manifestantes protestam, em frente ao Congresso Nacional, contra a visita de Ahmadinejad
Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr
A visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil nesta segunda-feira causa reações distintas em dois representantes de religiões em atrito com o governo iraniano. Para a comunidade judaica, a presença do líder que nega o Holocausto e prega o fim de Israel é “um tapa na cara”. Aos bahá’i, minoria religiosa reprimida no Irã, a visita é uma importante oportunidade de diálogo.
“De forma alguma nós somos contrários à visita”, disse ao eBand Iradj Roberto Eghrari, secretário nacional de relações com sociedade e governo da ONG Comunidade Bahá’i do Brasil. “É uma oportunidade de se falar a verdade, desde que elas sejam ditas e as vidas humanas não sejam colocadas como moeda de troca para questões de interesse comercial”.
Ricardo Berkiensztat, vice-presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, diz que a comunidade judaica, protagonista de protestos contrários à visita, considera que a vinda do líder “representa tudo aquilo que nós, não só judeus, mas que defendemos a democracia e os direitos humanos, repudiamos”. Grupos gays também se uniram às manifestações contra o iraniano por suas declarações homofóbicas.
No entanto, ele pondera que se deve diferenciar o povo iraniano do presidente que “desafia o mundo”.
Para Berkiensztat, o Brasil pode incrementar a balança comercial com o Irã através de diplomatas e empresários, o que excluiria a necessidade da visita do iraniano. Ele cita como exemplo o Uruguai, que mantém relação comercial com o país, mas não recebe Ahmadinejad.
Berkiensztat diz estar preocupado com as declarações polêmicas que Ahmadinejad pode trazer na bagagem. “O mundo inteiro fechou as portas para ele, e o Brasil está abrindo e dando um púlpito e um microfone”, afirmou.
Diálogo
Segundo Eghrari, os seguidores de sua religião não têm direito a curso superior, a aposentadoria, nem podem ser funcionários públicos no Irã. “Economicamente e intelectualmente os bahá’is são estrangulados. Todos os lugares sagrados bahá’i foram confiscados, todos os cemitérios bahá’is foram destruídos”, afirma. No país persa, a identificação da religião em fichas estudantis ou empregatícias é obrigatória. Os bahá´is não são reconhecidos como minoria religiosa e são proibidos de praticar sua fé no país persa. O mesmo não ocorre com o judaísmo, o cristianismo e o zoroastrismo, cujos direitos direitos são garantidos pela Constituição.
O secretário diz que os 65 mil seguidores da religião no Brasil vêem na visita uma oportunidade de mostrar que, diferente do Irã, aqui os bahá’is são respeitados e incentivar que o mesmo ocorra em seu país de origem.
Eghari menciona a importância de o Brasil estreitar laços com outras nações, mostrando o que é valorizado na realidade brasileira para construir novas relações no cenário internacional.
“É uma forma mais ampla de se tentar estabelecer uma comunidade de nações onde o mundo perceba que a Terra se tornou um único país, uma perspectiva que o fundador da religião bahá’I [Bahá´u´lláh (1817-1892)] trouxe no século 19”, afirmou Eghrari.
Na opinião de Berkiensztat, o Brasil é hoje um país respeitado como nação, mas ainda está distante ser bem-sucedido como mediador nos conflitos no Oriente Médio. “O presidente Lula acredita que o Brasil tem que ser um palco de grandes negociações internacionais para justificar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU”, disse. “Mas ainda é muito cedo para o país entrar de cabeça nesses conflitos que são milenares.”
(Publicado na E-Band em 22 de novembro de 2009, às 08:07 AM)
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