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COMISSÕES / Relações Exteriores
02/07/2009 - 14h36
O governo brasileiro não proporá o isolamento político do Irã, por causa da reação do governo iraniano às manifestações de protesto pelo resultado das eleições naquele país, disse nesta quinta-feira (2) o subsecretário político do Ministério das Relações Exteriores, Roberto Jaguaribe. Ao contrário, informou, optará por estimular a busca do entendimento e da conciliação.
- Uma solução de engajamento e de diálogo é altamente preferível a uma de confronto e isolamento, que tende a radicalizar posições - afirmou Jaguaribe durante audiência pública sobre o tema promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
Em sua exposição aos senadores, Jaguaribe informou que o comércio entre os dois países - de quase US$ 2 bilhões anuais - é praticamente uma via de mão única, pois o Brasil exporta diversos produtos, como carne, milho e soja, e não importa praticamente nada. Disse ainda que o governo brasileiro considera o Irã um "parceiro necessário e importante" no Oriente Médio, com o qual mantém relações diplomáticas desde 1903.
Jaguaribe lembrou que o próprio governo do Irã reconheceu a existência de "incorreções" no processo eleitoral, que levou à reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Mas observou que consultas feitas junto a países vizinhos já apontavam para o resultado anunciado das eleições. Em sua opinião, a eleição presidencial demonstrou a "existência de fato de uma disputa real" de poder no Irã.
Também convidado para a audiência, o secretário-geral de ações para comunidade e governo da Comunidade Bahá'í do Brasil, Iradj Roberto Eghrari, considerou "desproporcional" a reação do governo do Irã às manifestações de rua em protesto contra o resultado das eleições. Filho de iranianos que chegaram ao Brasil na década de 50, Eghrari fez um duro ataque ao governo iraniano na questão dos direitos humanos.
Segundo o secretário, ainda são comuns no Irã ações como apedrejamento e tortura. Além disso, relatou, o país é o segundo no mundo em casos de penas de morte, inclusive de adolescentes. Uma menina de 17 anos, como informou, teria sido enforcada apenas por haver dado aulas sobre a fé Bahá'í - que teria 350 mil seguidores no Irã e 65 mil no Brasil - a crianças iranianas. Eghrari pediu apoio do Brasil na tentativa de evitar que sejam condenados à morte sete líderes Bahá'í atualmente presos naquele país, cujo julgamento está previsto para 11 de julho.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) pediu que o julgamento seja realizado de "forma transparente", com a presença de observadores internacionais. Após lembrar que a comissão acabara de apoiar uma moção contra o golpe em Honduras, o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) disse que não estava de acordo com as violações de direitos humanos no Irã. Por sua vez, o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) perguntou ao representante do governo brasileiro presente ao debate se o Irã já detinha a bomba atômica. Jaguaribe respondeu que o Irã realmente tem um programa nuclear, mas considerou "subjetivo" o debate a respeito da disposição iraniana de fabricar armas nucleares.
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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