A história demonstra que as perseguições religiosas são um dos elementos do processo de transição para o estabelecimento de uma nova religião na humanidade. À medida que as perseguições se intensificam, maior é a repercussão e número de adeptos ou simpatizantes à religião perseguida. Observa-se também o declínio da ordem social e espiritual vigentes até a chegada da nova religião. Os cristãos, por exemplo, foram perseguidos, torturados, queimados vivos e devorados por feras nas arenas romanas. O resultado foi o aumento da popularidade do Cristianismo entre os romanos. Em 313, o Imperador Constantino declarou-se cristão. Em menos de 100 anos, o Cristianismo tornou-se a religião oficial de Roma, influenciando a difusão de seus ensinamentos por todo o mundo.
Uma enquete realizada pela Association des Chercheurs Iraniens (ACI) oferece uma visão atual de como a perseguição aos bahá’ís pelo governo iraniano reflete perfeitamente o processo descrito acima.
Em 2007, a ACI realizou uma enquete online sobre as fontes que determinam a identidade iraniana e como esta pode influenciar a democracia, justiça social e respeito aos direitos humanos no Irã. Os iranianos entrevistados identificam-se fortemente com sua cultura e antiga civilização e não com a identidade cultural e étnica do Irã.
Na sequencia, , a ACI realizou uma análise da mostra pertencente a maior faixa etária no Irã, os jovens entre 20 e 29 anos de idade, a geração pós Revolução de 1979, que representa 23% da população. Das 4.000 respostas válidas, metade representa iranianos que atualmente vivem no Irã.
O universo amostral da enquete não é estatisticamente representativo da população jovem do Irã, já que não inclui os habitantes de áreas rurais e os que não acessam internet, porém oferece algumas percepções sobre o provável senso de identidade desta geração, certamente influenciados pelo regime teocrático. Tal senso de identidade demonstra a percepção dos entrevistados sobre o declínio da ordem que insiste em manter-se e apresenta sinais do crescimento de adeptos e simpatizantes da Fé Bahá’í no Irã.
A maior preocupação entre a geração pós Revolução de 1979 entrevistada é a instabilidade econômica do país, seguida da falta de democracia e segurança. Em relação ao futuro do Irã, aproximadamente 79% das mulheres e 86% dos homens veem o futuro com completa ou relativa desesperança e mais de 90% pensam que a República Islâmica mudará para pior ou caos e confusão. Mais de 80% dos entrevistados possuem uma visão negativa ou muito negativa da República Islâmica .
Somando-se a percepção negativa que os entrevistados possuem sobre o Irã, 40% dos entrevistados declararam-se sem convicções religiosas e outros 22% declararam-se terem voltado contra a religião. A falta de confiança no Estado e o fato de que mais de 55% dos entrevistados pensam em deixar o país também servem como indicadores da decadência do atual regime.
Mesmo com a perseguição sistemática dos bahá’ís no Irã, quando questionados sobre religião, 3% dos homens e quase 3,5% das mulheres denominam-se bahá’ís nesta enquete. Seria incorreto extrapolar os resultados da enquete para o universo populacional do Irã e afirmar que de mais de 16 milhões de jovens iranianos, 483 mil são bahá’ís. De acordo com a ACI, é provável que a enquete seja representativa da população jovem urbana do país. Porém, não há dados oficiais para relacionar o percentual de jovens urbanos que possuem acesso a Internet e qual o percentual da população urbana em relação a rural do país.
Mesmo com as limitações metodológicas da enquete, é interessante comparar os resultados acima com o número oficial de bahá’ís residentes no Irã, de acordo com a Comunidade Bahá’í Internacional, com dados de 1979: 350 mil entre crianças, jovens e adultos. Com os dados da enquete podemos afirmar que em 30 anos o número de bahá’ís certamente aumentou de forma marcante entre aqueles que constituem a geração pós-revolução islâmica. Isto em um país que considera a Fé Bahá’í uma apostasia, que proíbe a organização administrativa e a realização de atividades coletivas dos bahá’ís, que não permite que jovens bahá’ís concluam seus estudos universitários, que dificulta as atividades econômicas dos adultos bahá’ís, que mantem sete bahá’ís presos sem justa acusação e sem direito a defesa há um ano.
Através de uma análise, ainda que informal, dos dados da enquete da ACI com os da Comunidade Internacional Bahá’í, pode-se dizer que o número de bahá’ís certamente não está decrescendo no Irã. Seria possível cogitar que o Irã está vivenciando uma transição devido à difusão da Fé Bahá’í e sua perseguição neste país?
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