Artigo publicado no Jornal do Brasil - JB, em 04 de dezembro de 2007
A fé bahá'í tem como um de seus postulados básicos a importância da educação para o desenvolvimento material, social, e espiritual da humanidade. Não somente a comunidade bahá'í tem-se distinguido por seu elevado padrão educacional, como também tem historicamente promovido avanços educacionais para a sociedade em geral. Na primeira metade do século 20, por exemplo, os bahá'ís mantinham cerca de 50 escolas progressivas e de alto nível no Irã.
Em 1979, quando foi estabelecida a República Islâmica do Irã, os estudantes bahá'ís começam a ser expulsos das universidades. No transcurso dessas duas décadas, precisamente em 1991, vem ao conhecimento público o Memorando Golpaygani. Este documento oficial do governo iraniano afirma de forma enfática que os bahá'ís do Irã deverão ser tratados de forma que "seu progresso e desenvolvimentos sejam bloqueados". As orientações incluem a expulsão dos bahá'ís das universidades, seja durante o processo de admissão ou no andamento de seus estudos.
Ao mesmo tempo, os bahá'ís buscam organizar suas próprias instituições educacionais de ensino superior, firmando convênios com universidades estrangeiras para que seus jovens possam continuar seus estudos - mas, há o reverso da medalha: as autoridades iranianas fazem de tudo para impedir que tais esforços alcancem sucesso: invadem casas em que as aulas se realizam, apreendem materiais, ameaçam instrutores e alunos. Qual seria a justificativa? Não foi apresentado nada plausível, ficando demonstrado que a negação à educação está baseada inteiramente em discriminação religiosa e também o fato preocupante de que estas mesmas autoridades deixam claro que os bahá'ís podem ingressar em faculdades e universidade desde que reneguem sua fé, declarando-se muçulmanos.
Algumas mudanças ocorreram em 2004. Naquele ano, os jovens bahá'ís em idade universitária receberam em suas casas materiais das universidades que os convidavam a participar dos exames vestibulares nacionais. Mas há um detalhe que faz toda a diferença: as fichas de registro, que desde a Revolução continham um campo de identificação religiosa dos candidatos, agora pediam apenas a seleção de um campo de estudos religiosos nos temas islã, judaísmo, cristianismo ou zoroastrismo. A opção de um estudante professar a religião bahá'í foi obliterada dos formulários. Mesmo assim, cerca de 800 bahá'ís fizeram os exames, obtendo excelentes notas.
Ainda assim, o resultado não foi mais que um duro golpe nas esperança desses jovens. Quando foram divulgados os resultados dos exames em agosto de 2004, porém, os bahá'ís perceberam que haviam sido falsamente registrados como muçulmanos - em novo esforço governamental de enganar os bahá'ís e forçá-los a renegarem sua religião. Todos os bahá'ís se recusaram a levar esta farsa adiante e, em conseqüência, mais uma vez não puderam registrar-se na universidade. Com o objetivo de conter a opinião pública internacional, as autoridades iranianas disseram que iriam corrigir as informações dentro de prazo para que pudessem efetuar seus registros - mas isso não foi feito e… mais uma vez os estudantes bahá'ís não puderam registrar-se na universidade.
Não há como negar para qualquer observador imparcial que existe um contraste gritante entre a nobreza da história islâmica e a ação do governo atual em impedir a juventude acesso à educação superior. E surgem algumas perguntas que por si mesmas, se recusam a ficar sem respostas. Por exemplo: Como explicar aos povos do mundo, especialmente à juventude, que tais atos possam estar sendo perpetrados em uma nação que afirma adesão aos princípios islâmicos? O que dizer do valor da educação, defendido em séculos passados por esses princípios, os quais estimularam o estabelecimento de famosos centros educacionais e produziram em sua nação mentes brilhantes que, ao fazer avançar o conhecimento, deram permanentes contribuições às artes e às ciências?
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